Conforme matéria jornalística do jornal Financial Times de Madrid, editada por Barney Jopson e divulgada no Brasil pelo jornal brasileiro, Valor Econômico, com a seguinte Manchete: “GASODUTO OU CABO PARA LEVAR ENERGIA VERDE DIVIDE A EUROPA”.
Tema que já foi tratado pela nossa Agência após entrevista com o especialista brasileiro Paulo Roberto Gomes Fernandes, engenheiro e CEO da empresa Liderroll Soluções Permanente de Engenharia, procuramos saber qual seria a posição técnica da LIDERROLL para cada uma destas opções afim de desembaraçar este imbróglio. Acompanhe abaixo a entrevista a Paulo Fernandes.
O que achou da matéria que foi veiculada no Brasil sobre a manchete acima estampada?
Olha, realmente existem estas duas possibilidades técnicas e sistemas distintos de transporte de energia ou do insumo gás (H2), porém, antes de qualquer decisão e para sair da condição da suposição ou “achismo” o jeito profissional de se agir é fazer um Estudo de Viabilidade Técnico Económico – (EVTE), como chamamos aqui no Brasil. Até mesmo porque nota-se claramente que a posição dos três países (Portugal, França e Espanha) é completamente ética, meramente isenta e de visão natural, sem interesses e ou obsessão para domínios de qualquer tipo de interesse comercial para privilegiar um ou outro país, com dizemos aqui no Brasil; “Sem puxar a melhor brasa da fogueira para a sua Sardinha”; diferentemente se é induzido a pensar (pelo texto escrito) quando são expostas as opiniões dos empresários do setor privado, membros das empresas que militam no segmento de geração de energia elétrica. A matéria foi muito feliz, quando o jornalista Mr. Jopson alerta que: “O potencial do hidrogênio verde ainda não foi comprovado e o combustível ainda não é produzido em escala comercialmente útil…”
Porém, e obviamente, os defensores do “politicamente correto” e da forçada abertura deste novo mercado (H2), o rebatem dizendo que: “…em algum momento o Hidrogênio será usado em grandes volumes…”. se vocês forem buscar a minha entrevista passada, eu falei exatamente isso; sobre as tentativas descoordenadas de cada país patrocinar uma “Corrida maluca” do tipo: “cada um por si”, para ver quem é o melhor do mundo; ao invés de somarem esforços concentrados com a união de um grupo multidisciplinar composto por profissionais experientes dos países que mais se destacam nestes segmentos energéticos, visando primeiro, chegarem na definição da melhor fonte de energia a ser adotada, e somente vencida esta fase, utilizarem o mesmo grupo de trabalho multidisciplinar ou até outro grupo mais especializado em sistemas e plantas industriais, com a dedicação exclusiva de como produzir em larga escala o produto da fonte energia anteriormente já definida, mas não é isso que vejo. Uma pena! Antes de finalizar com a nossa opinião sobre a manchete da matéria, é importante deixar algumas observações para a reflexão pessoal de cada leitor, porém sem quere influenciá-los, com ficou evidenciado na posição dos empresários privados citados na matéria do Mr. Jopson.
Vejamos: a empresa Cespa, do segmento de petróleo, já percebeu que para a movimentação de grandes volumes e de forma rápida e segura, ponto a ponto, ou seja do seu terminal até o cliente final, o gasoduto será a melhor opção. Isto é verdade; sem falar ainda que em função do comprimento estimado deste gasoduto deve ser da ordem de 350 a 360 quilómetros e se for construído, por exemplo, com um tubo de 38 polegadas, a sua empresa poderá reduzir seus custos operacionais de instalações físicas, não exigindo área gigantescas para construção de “parques de tancagem” para estoque do H2, uma vez que a demanda no fluxo de consumo do cliente final fará em paralelo este alivio natural da sua produção diária, e; o volume interno deste gasoduto já servirá, naturalmente; como um grande reservatório de estocagem da sua produção. Não é mesmo? Só vantagens. Existe uma estimativa publicada de capacidade de armazenagem de 12 toneladas de hidrogênio para cada quilómetro de gasoduto, porém não é dito para tubo de qual diâmetro de tubo e nem a pressão, mas de qualquer forma não deve ser nada próximo de 38 polegadas (e submarino), logo; é só fazer a conta.
Uma outra alternativa segura seria a estocagem dos volumes do Gás em cavernas de sal, porém vai depender muitas vezes da geologia local e dos custos e perfuração. A criogenia como estocagem em esferas deve ser outra possibilidade técnica a ser avaliada também, e, finalizando, o transporte Transoceânico por navios (Hidrogênio Líquido, Metanol ou Amônia) como muito bem colocado e planejado pela empresa Cespa, também é bem viável.
Observem que tudo isso representaria um único custo e próximo da planta ou unidade da geração/produção do hidrogênio (custo concentrado em um único ponto) a ser distribuído e movimentado em gigantescos volumes no ramal do duto principal, ponto-a-ponto (Barcelona – Marselha); com subsequentes distribuições internas para uso e consumo em cada país, através de uma malha com ramais de gasodutos derivativos de menores diâmetros e comprimentos, até mesmo para conexões com países vizinhos. Reparem que pelo mar não haverá qualquer custo e necessidade de: Desapropriações de terras, Obtenção de várias licenças ambientais de cada município e leis especificas, não haverá necessidade de inspeções frequentes, não haverá poluição visual, não haverá acidentes ou incidentes com aeronaves, não haverá segregação de terras e faixas exclusivas de afastamento mínimo de construções e de áreas produtivas logo abaixo e ao lado das linhas de transmissão elétricas, não há perdas por distancias X quedas de tensão; não haverá riscos de falhas constantes nas operações de transporte do insumo energético por intempéries do tipo: ventos, raios, rompimento de cabos, nevascas, interferência da vegetação local, não haverá necessidade da obrigatoriedade de grandes e diversas áreas em cada cidade para se construir subestações de transformação de energia, unidades industriais para produção e estocagem do hidrogeno, obrigatoriedade de ser boas fontes com alto volume de Água e Energia elétrica de fonte limpa próximas de cada planta de produção de hidrogênio; e o pior, haverá a centralização destes custos para cada cliente usuário final para pagar a cada planta industrial individual local destas, ao passo que tudo isso (ao nosso ver) poderá ser evitado com uma geração e produção do hidrogênio em um único ponto e transportado pelo gasoduto submarino, tendo o cliente final apenas que ter uma estação simples de recebimento local em sua fábrica para o hidrogênio trazido pelo ramal secundário da malha interna de dutos de cada pais ou cidade. É muito mais viável (em termos de espaço físico e exposição ao perigo operacional de cada planta industrial de geração de hidrogênio), mais barato, mais seguro e prático.
Outro ponto a ser observado é que o gás natural de petróleo também possui alto grau de inflamabilidade e já existem gasodutos com distancias acima de 1.000 (mil) quilómetros de extensão, o que seria quase o triplo da distância comparado a esta distância de Barcelona – Marselha (350/360 Km pelo mar) e em média estes gasodutos são pressurizados a mais de 90 kgf/Cm², inclusive no Brasil temos um de mais de 1.300 Km – ver link: Gasoduto Gasene – Global Energy Monitor (gem.wiki); portanto não é bem assim esse terror todo e não vejo as tais limitações técnicas e riscos de segurança operacional, bem como não pactuo com a afirmação de que a produção descentralizada, transportando energia elétrica verde até as unidades industriais de produção de hidrogênio nos locais onde ele será usados, ser “a maneira mais eficiente”, assim como quis fazer parecer crer a empresa de energia Espanhola Iberdrola.
Numa avaliação circunstancial à frio, se considerarmos os já poucos itens e argumentos listados acima por nós acima, tudo apontaria para a conclusão da construção do gasoduto Submarino X a alternativa de se construir uma imensa linha de transmissão de energia elétrica por terra firme, juntamente com a construção de 6 dúzias de usinas locais especificas para cada consumidor. Porém, como disse no início desta entrevista, tudo vai depender de um bom projeto básico e de um confiável Estudo de Viabilidade Técnica e Económica (EVTE), pois, sem isso, tudo dito até aqui são meras opiniões baseadas em achismos e talvez de cunho comercial querendo, salvo melhor juízo; “puxar a melhor brasa da fogueira para a sua Sardinha”.
Uma coisa é clara, com este tema agora em voga, ficou registado a coerência da nossa última entrevista da LIDERROLL à esta Agência, onde já afirmávamos a necessidade e a importância de cada país, obrigatoriamente; ter a visão estratégica, geopolítica e até de militar, focada na construção e ampliação de sua malha de dutos, sendo bem projetada e bem construída objetivando dar maior seletividade e segurança nas manobras de movimentação de grandes volumes a serem distribuídos em seu território, para a manutenção dos suprimentos e defesa da sua economia. ■