“É para mim motivo de orgulho residir e ser Cônsul-Geral numa cidade onde a comunidade portuguesa ocupa um lugar de destaque”, revelou Bruno Paes Moreira

"É uma comunidade com um bom nível de integração, por norma localmente apreciada e respeitada"

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Bruno Paes Moreira é cônsul-geral de Portugal em Genebra
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Bruno Paes Moreira é cônsul-geral de Portugal em Genebra desde 2018. Antes de chegar à Suíça como diplomata, passou por países como China, Argentina e Irlanda. Diz-se orgulhoso por poder representar o seu país no estrangeiro e por trabalhar em prol da comunidade portuguesa em Genebra, onde vivem mais de 120 mil cidadãos de nacionalidade portuguesa.

Em entrevista à nossa reportagem, este responsável falou sobre o trabalho diplomático, analisou a vida na Suíça, mais concretamente em Genebra, mencionou o papel dos lusodescendentes, destacou o trabalho consular na sua região, defendeu a importância das associações portuguesas em solo suíço e prometeu “empenho e dedicação” no desempenho das suas funções.

Quando iniciou funções na Suíça?

Assumi funções no Consulado-Geral em Genebra em 1 de setembro de 2018.

A pandemia está a tornar o trabalho diplomático mais difícil?

Quanto ao impacto da pandemia de Covid-19 no trabalho consular, é óbvio que ele se faz sentir. Coloca-lhe desafios inéditos, para os quais se tem procurado encontrar soluções que permitam continuar a atender o melhor possível as comunidades portuguesas, num contexto fortemente condicionado pelas medidas sanitárias que se impõem.

Como enxerga a Suíça?

É um belo país, onde eu e a minha família temos sido bem acolhidos e onde gostamos de viver.

Quantos portugueses vivem em Genebra?

Na área consular de Genebra, que engloba os cantões de Genebra, Vaud e Valais, por sinal três cantões onde os portugueses são a primeira comunidade estrangeira, a população portuguesa residente supera as 120 mil pessoas. Este número, que decorre dos dados estatísticos suíços disponíveis sobre a matéria, não reflete, porém, o universo total de portugueses que efetivamente vive nos três cantões, na medida em que, como é natural, não incorpora os muitos portugueses cumulativamente detentores de nacionalidade suíça, em número crescente nos últimos anos.

Qual é a sua opinião sobre a comunidade lusodescendente no país?

É muito positiva. É uma comunidade com um bom nível de integração, por norma localmente apreciada e respeitada, tanto pela população em geral como pelas autoridades suíças.

Como é vista e recebida a comunidade portuguesa na Suíça?

É uma comunidade apreciada e com bom nível de integração. É o juízo que faço baseado no quanto me é transmitido pelos meus interlocutores suíços, assim como pelos meus compatriotas aqui residentes. E é também a perceção que resulta da minha observação direta, assente numa vivência de já perto de dois anos e meio neste país.

Hoje, alguns temas estão sobre a mesa em relação aos consulados portugueses no mundo. Na Suíça, o panorama também gera questões por parte de quem utiliza esses serviços, como o agendamento de serviços e a obtenção de documentos e etc. Diante disso, o que os cidadãos podem esperar em termos de atendimento consular na Suíça, mais concretamente em Genebra?

Relativamente ao Consulado-Geral em Genebra, desde o começo de maio de 2020, o Posto passou a funcionar integralmente por marcação, por via da plataforma de agendamento on-line do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ou por marcação através de e-mail ou telefone para as situações comprovadamente mais urgentes. Alterou-se, assim, e profundamente, o paradigma de atendimento até então existente neste Posto, que funcionava por ordem de chegada e sistema de senhas, levando muitas vezes a que os utentes formassem ingratas longas filas de espera à entrada do consulado pela manhã, quando não mesmo ainda de madrugada. Hoje em dia, os utentes vêm com hora marcada e não têm de se sujeitar a longas filas e a elevados tempos de espera. No que obviamente me deixa satisfeito, regra geral, o feedback que temos tido dos nossos compatriotas sobre o novo sistema de atendimento é muito positivo! Paralelamente, o Posto continua a apostar nas permanências consulares nos cantões de Vaud e do Valais, num total de 32 previstas em 2021, das quais 12 em Lausanne.

O que pode ser feito para melhorar esse cenário? Está previsto o aumento do número de funcionários nesses serviços em Genebra?

Em termos de recurso humanos, o Consulado em Genebra voltou a contar, desde o começo de novembro do ano passado, com um, neste caso, uma chanceler, o que é um desenvolvimento a registar e de óbvia importância para o bom funcionamento do Posto. Deparamo-nos, contudo, atualmente, com um cenário de escassez de recursos humanos no Escritório Consular em Sion. Com efeito, a equipa de quatro funcionárias afeta àquele serviço encontra-se desde o começo deste ano reduzida a metade, por força das duas outras funcionárias se encontrarem de baixa médica prolongada. No imediato, estamos a fazer os possíveis para atenuar o impacto negativo desta situação na comunidade portuguesa no Valais – nomeadamente atendendo em Genebra os utentes ali residentes com pedidos mais prementes e que estejam dispostos a fazer essa deslocação, que, bem sei, leva o seu tempo e é dispendiosa – e logo que for superiormente autorizado reforçar-se-á a equipa naquele escritório consular.

Como é a vida em Genebra?

É muito aprazível. É uma cidade bonita, de dimensão humana e elevada qualidade de vida, embora bastante cara. Não há bela sem senão. E é naturalmente para mim motivo de orgulho residir e ser Cônsul-Geral numa cidade e numa área de jurisdição onde a comunidade portuguesa ocupa um lugar de destaque.

Há neste momento restrições no deslocamento de cidadãos entre a Suíça e Portugal? Se sim, quais são e que critérios existem?

São as restrições decorrentes da pandemia e que têm variado consoante a evolução do quadro epidemiológico em Portugal e na Suíça, destacando-se a obrigação de um teste RT-PCR nas 72 horas anteriores à realização da viagem, em ambos os sentidos. Sob pena de estar a transmitir informação que à data da publicação desta entrevista possa já estar desatualizada, recomendo aos interessados nesta matéria a consulta da página digital do consulado em genebra.consuladoportugal.mne.gov.pt

Tem informações sobre portugueses e lusodescendentes que vivem na Suíça e que queiram aproveitar as novas diretrizes de acesso ao ensino superior em Portugal?

Não dispondo de dados quantitativos concretos, sei, no entanto, do interesse de jovens portugueses e lusodescendentes na Suíça pela excelente e muito variada oferta de ensino superior em Portugal. A este propósito, recordo que na visita que realizou à Suíça em abril de 2019, o então Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Luís Carneiro, fez-se acompanhar pelo Diretor-Geral do Ensino Superior e vários representantes de estabelecimentos do ensino superior em Portugal, tendo sido realizadas três sessões informativas sobre esta temática, em Genebra, no Valais e em Zurique. Nessas sessões, que contaram com elevada adesão de alunos e encarregados de educação, divulgou-se, justamente, o potencial dessa oferta e as oportunidades de ingresso por jovens portugueses e lusodescendentes residentes na Suíça e no estrangeiro em geral, nomeadamente através do contingente de vagas que lhe está especialmente destinado. Iniciativa com semelhante propósito chegou a ser equacionada em 2020, mas a pandemia do novo coronavírus não possibilitou a sua concretização.

Na sua opinião, qual é a importância das casas regionais na manutenção da cultura portuguesa na Suíça?

Têm tido historicamente, e continuam a ter, um papel relevante na ligação de muitos dos portugueses aqui residentes às suas origens afetivas, culturais e outras em Portugal.

Sabemos que muitas associações estão a passar por problemas para se manterem ativas por conta da pandemia. Como o governo português pode ajudar nesse sentido?

Esta uma pergunta que em concreto deve ser colocada à Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. O que pela minha parte posso afirmar é que o Governo português e a rede externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros estão, naturalmente, muito atentos aos efeitos da pandemia nos movimentos associativos portugueses.

Frequenta alguma dessas associações?

Participo regularmente, como me compete, em iniciativas de várias ordens organizadas e levadas a cabo pelo movimento associativo na área consular de Genebra. São para mim momentos importantes e, amiúde, muito gratificantes, de convívio com muitos dos meus compatriotas aqui residentes. Incontornavelmente, a pandemia obrigou à suspensão e adiamento da esmagadora maioria das atividades e iniciativas associativas, que todos esperamos possam ser retomadas logo que a evolução da situação epidemiológica o permita.

Como é o seu relacionamento com os deputados eleitos pelo círculo europeu?

Tenho um bom e muito positivo relacionamento institucional e pessoal com os Senhores Deputados Paulo Pisco (PS) e Carlos Gonçalves (PSD).

O que podem esperar do seu trabalho?

Total empenho e dedicação. É com orgulho, humildade e grande responsabilidade que exerço as funções de Cônsul-Geral em Genebra, quotidianamente procurando que o consulado no seu todo sirva o melhor possível a importante comunidade portuguesa radicada na sua jurisdição e os interesses de Portugal e dos portugueses nesta parte da Suíça.

Por fim, quem é Bruno Paes Moreira?

Sou casado, com dois filhos. Fiz o concurso para o Ministério dos Negócios Estrangeiros no já longínquo ano de 1997, iniciando formalmente a minha carreira como diplomata no ano seguinte. São, pois, já mais de 23 anos de um muito preenchido percurso profissional ao serviço do Estado português. No estrangeiro, e antes de assumir as minhas atuais funções, estive colocado em Pequim, Buenos Aires e Dublin. ■

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