Com direito a réplica do bondinho mais famoso de Lisboa, exposição sobre viagens por diferentes regiões do território português, auditório com palestras de autores lusófonos, homenagem à José Saramago e uma livraria, o Pavilhão de Portugal na Bienal do Livro de São Paulo trouxe ao Brasil uma imersão na cultura portuguesa.
O Brasil foi o primeiro país a receber a exposição Sketch Tour Portugal Reload, que reúne arte e literatura para inspirar a busca por Portugal enquanto um país literário.
No pavilhão, painéis em formato de malas de viagem traziam os textos de 11 autores que descrevem, através da literatura, as paisagens e experiências vividas. Os relatos eram acompanhados de desenhos, sons e vídeos que ajudavam a mapear as vivências no território e as viagens dos autores que se dividiram em regiões como Açores, Porto e região Norte, Alentejo, Algarve, Centro de Portugal, Madeira e Lisboa.
Junto aos desenhos de cada região, também foram exibidas amostras de materiais recolhidos durante as visitas, como um ouriço de Montesinho ou um bilhete de loteria de uma viagem a Castelo Novo.
“Sou do outro lado, do nordeste alentejano, de uma serra caída na planície seca como um grande meteoro verde, colada a Espanha, mas todos os anos, em agosto, rumávamos a sudoeste pela fresquinha das cinco da manhã dos meus cinco anos, para longas férias no mar, até batatas e garrafão de azeite viajavam no teto do carro, atados com cordas e mãos felizes.”
– Rui Cardoso Martins sobre o Alentejo
“O Algarve está dividido em duas partes: barlavento e sotavento. São palavras de origem náutica. Uma diz respeito à borda de um navio virada na direção do vento, outra à borda de um navio oposta à direção de onde o vento sopra. Atravessar o Algarve é como cruzar um convés de um lado ao outro.”
– Matilde Campilho sobre o Algarve
As ilustrações foram feitas por vinte sketchers portugueses e estrangeiros. Organizada pelo Urban Sketcher Portugal e pela VisitPortugal, essa é a segunda edição do projeto SketchTour Portugal, lançado em 2017.
Ao lado da exposição, encontrava-se a réplica do clássico bondinho português. Através das janelas, o símbolo histórico e cultural de Portugal proporcionou aos visitantes uma imersão por ruas históricas, regiões vinícolas, natureza, arte e cultura do país, e o público ainda podia posar para uma foto com a estátua de Fernando Pessoa.
Além de ser homenageado em uma das palestras do evento, Saramago teve a sua história, formação, épocas decisivas da sua vida e o desenvolvimento das suas obras expostas em painéis no Pavilhão. Os textos e as imagens se complementam para contar a trajetória do autor, traçando um panorama sobre suas influências literárias e o impacto de seu trabalho na literatura.
“Ao longo de sua vida literária, José Saramago foi abordando, em interação com a obra literária, questões sociais, éticas e políticas. A crescente relevância dessas questões, no trajeto do escritor, explica estas palavras: ‘Cada vez me interessa menos falar de literatura'”.
Os textos são de Carlos Reis, comissário do centenário, e a exposição foi organizada pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e a Fundação José Saramago.
No espaço infantojuvenil, a programação explorou o fundo do mar. Organizada pela EDP, o espaço voltado ao público jovem e infantil no pavilhão buscou chamar atenção para questões relacionadas ao oceano e à sustentabilidade, com jogos, contação de histórias e exibição de curtas. Ainda, uma atividade de realidade virtual e aumentada levou o público ao fundo do mar e promoveu a conscientização sobre problemas como a acidificação do oceano.
A primeira Bienal pós pandemia, na sua 26ª edição, ocorreu de 2 a 10 de julho em São Paulo e registrou um total de 660 mil visitantes. Portugal foi o país convidado de honra no ano que marca não só o centenário de Saramago, como o bicentenário da independência do Brasil. ■
Beatriz Hermínio