A dentista Ana Augusta Corrêa da Costa, 48 anos, é natural do Mato Grosso do Sul, Brasil, e reside em Portugal desde 1996. Esta profissional conta que, apesar de serem países irmãos, cuja língua falada é a mesma, ela encontrou dificuldades nos primeiros momentos no novo país europeu. A distância e o clima foram as maiores dificuldades de adaptação quando decidiu se mudar para Portugal. Hoje, considera uma mudança bem-sucedida, após 27 anos.
“Sempre tive vontade de emigrar e conhecer lugares novos e, na altura, lembro que escutei as notícias que diziam que Portugal tinha falta de dentista. Soube da confusão da legalização dos brasileiros por aqui, dos dentistas. Surgiu aquela vontade de sair do país e resolvi arriscar. Vim sozinha, sem conhecer nada e ninguém, com 22 anos de idade, e, na minha mente, pensei que fosse ficar dois anos. Apesar de serem países irmãos que falam a mesma língua, sempre há o desafio de conhecer um lugar novo. Era a Europa, era um país de primeiro mundo, poderia ser muito diferente. Mas foi muito bom. Eu tive muitas dificuldades no início, na adaptação, mas, principalmente, pelo clima. Saí do brasil no verão e cheguei aqui no inverno”, recordou Ana.
A oportunidade surgiu quando um colega de trabalho retornou ao Brasil e a indicou para ocupar a sua antiga vaga. Mas o local que oferecia uma oportunidade estava fora dos grandes centros de Portugal. Tratava-se do Fundão, pequena cidade no distrito de Castelo Branco, na região da Beira Baixa, e o emprego na clínica localizava-se em Belmonte, o que fez com que Ana Augusta tivesse que arrumar um meio para se deslocar.
“Eu estava a trabalhar em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O dono da clínica ia ter uma formação na APCD e convidou-me para ir com ele. Havia um colega que tinha acabado de chegar de Portugal. Perguntei: ‘a pessoa com quem você trabalhava já arrumou alguém para colocar no seu lugar?’ e ele disse que não sabia, mas que o dono da clínica já tinha voltado ao Brasil e deveria ter essa informação. No dia seguinte, perguntei-lhe: ‘sabe se é preciso alguém para o lugar dele lá? Então, ele disse-me: ‘eu voltei para o Brasil, deixei a minha prima gerindo as minhas clínicas, mas eu consigo dois dias de trabalho para você. O meu irmão disse que ele pode te dar os outros três dias de trabalho, mas essa é uma época boa, que muitos imigrantes vão para o natal, e eu preciso de você. Dê-me a resposta se quer ir ou não, porque convém que você vá o quanto antes’. Eu disse-lhe: ‘eu vou, pode contar que eu vou’”, contou.
Mas a distância não foi o único problema. Natural do Brasil, país com temperaturas tropicais, ao chegar a Portugal enfrentou dificuldades com o frio. O clima foi uma das barreiras que teve de superar. Entretanto, já faz 27 anos que reside em Portugal. Mais uma cidadã estrangeira que obteve sucesso na migração e soube aproveitar as oportunidades do país, que tem muito mais a oferecer do que apenas os centros urbanos mais conhecidos, como Porto e Lisboa.
“Eu vendi o meu carro para poder comprar o bilhete aéreo, fiz a mudança e foi um choque para os meus pais porque ninguém esperava essa minha atitude. Mas eu vim, mesmo sem conhecer os donos da clínica. Um deles estava no Brasil. E esse dentista estava no Fundão. Então, eu vim morar no Fundão, e na rua em que eu morava, havia cerca de oito brasileiros. ‘Estou no céu’, pensei, mas cada um tem a sua vida, tem os seus compromissos, e já estavam noutra fase e, para mim, era tudo novidade. Fui colocada para trabalhar em Belmonte, e eu morava no Fundão. Não existia transporte público. Tive de arranjar um carro, mas eu tinha que fazer um cheque caução do aluguel. Foi uma época muito complicada, consegui arranjar um carro muito velhinho. E foi assim”, finalizou Ana, que é bastante procurada pelo seu atendimento na região, sendo considerada uma das profissionais que mais investem no Interior de Portugal. ■