“Saramago é universal”, diz presidente de Portugal durante Bienal do Livro em São Paulo

Segundo dia da Bienal Internacional do Livro explorou o centenário de Saramago e teve a presença de nomes de destaque na literatura lusófona

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Presidente de Portugal sobe ao palco na Bienal do Livro de São Paulo ao lado do escritor José Luís Peixoto Foto: Beatriz Hermínio
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No ano do centenário de nascimento de José Saramago (1922-2010), a Bienal Internacional do Livro de São Paulo prestou homenagem a este que é um dos maiores autores de Língua Portuguesa, sendo o único a ganhar o Nobel de Literatura.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, podemos gostar muito ou pouco de um livro de Saramago, mas é impossível ignorar o seu legado para a humanidade.

“Saramago é português, fala da história de Portugal, mas é universal”, afirmou o presidente da República Portuguesa, que marcou presença no evento.

Enquanto país convidado de honra, Portugal traz mais de 20 escritores ao Brasil, entre eles Valter Hugo Mãe e José Luís Peixoto, expositores do último domingo, 3 de julho. A escritora moçambicana Paulina Chiziane também palestrou no evento e foi prestigiada por Marcelo Rebelo, que conferiu a exposição no Pavilhão Português e passeou pelos estandes da Bienal.

Literatura portuguesa em destaque. Foto: Beatriz Hermínio

Na homenagem, Peixoto, vencedor do prémio José Saramago em 2001 pelo romance “Nenhum Olhar” (Editora Dublinense, 2000), exaltou o posicionamento cívico e a constante presença de Saramago à volta das questões do seu tempo. Por sua provocação ao abordar assuntos que são tabu nacional, a obra “Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) foi destaque no tema.

“A homenagem a Saramago tem que ser pela leitura. Naqueles livros ainda está lá Saramago e vai estar sempre. Para quem os ler hoje é como se eles tivessem sido escritos ontem. Não são livros marcados no tempo, são livros que desafiam o tempo”, afirmou Peixoto no espaço Arena Cultural, onde esteve com os escritores brasileiros Andrea del Fuego e Jeferson Tenório.

Valter Hugo Mãe, a quem é atribuída a frase escolhida como tema da delegação – “É urgente viver encantado” – subiu ao palco da arena para falar sobre o seu sucesso no Brasil, processos de escrita e a sua obra mais recente, o livro “As doenças do Brasil” (Biblioteca Azul, 2021). O romance que se passa na Amazónia é dedicado a Ailton Krenak, ambientalista e escritor indígena brasileiro, e coloca personagens indígenas no centro da narrativa para contar uma história de ficção sobre a relação com os colonizadores portugueses.

Com a plateia cheia, o autor falou sobre as suas recorrentes passagens pelo Brasil e comentou a sua admiração por personalidades brasileiras, como Elza Soares. Em conversa com Pedro Pacífico, influenciador literário, destacou a força da literatura ao permitir o encontro com diferentes culturas.

Prémio Camões

Primeira escritora africana a vencer o Prémio Camões, instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989, Chiziane afirmou que o prémio que recebe é uma gratificação para uma raça que “finalmente é reconhecida”: a raça negra.

“Este espaço que se abriu é um espaço a partir do qual posso falar um pouco mais sobre esse nosso sonho de construir um mundo um pouco melhor”, falou em palestra sobre a sua vida e obra.

“Ela escreve e nunca envelhece, nem deixa envelhecer os leitores. Ela tem o elixir da juventude eterna”, disse Marcelo Rebelo, que lembrou ter condecorado a autora durante o seu primeiro mandato presidencial. No Pavilhão, a exposição sobre o prémio pode ser vista em formato digital e traz informações sobre os 34 prestigiados.

Viagem a “Portugal Revisited”

Inspirado pela obra “Viagem a Portugal” (1981) de Saramago, o Viagem a Portugal Revisited é um projeto que, 40 anos depois do lançamento do livro, convidou autores portugueses a refazer os passos de Saramago pelo país. No domingo, os organizadores mostraram uma prévia da primeira versão do projeto, a plataforma Viagem a Portugal Revisited, que será lançada nas próximas semanas.

Projeto escolheu 12 percursos de norte a sul do país para mostrar a diversidade das terras portuguesas e promover o turismo literário Foto: Beatriz Hermínio

O sítio irá conter conteúdos das viagens – textos, vídeos e podcasts – para serem consultados de forma interativa, com separadores em mapas 3D animados com tecnologia Google Earth. O projeto, que é desenvolvido pelo Turismo de Portugal em parceria com a Fundação José Saramago e com curadoria de Peixoto, foi apresentado pelo autor ao lado da brasileira Adriana Lisboa.

O domingo ainda contou com conversas dos escritores portugueses Maria do Rosário Pedreira, Pedro Eiras e Dulce Maria Cardoso. Na exposição “Rir na mesma língua”, o humorista Ricardo Araújo Pereira foi convidado para falar sobre humor e Língua Portuguesa.

Portugal apresenta uma programação extensa de atividades na Bienal, incluindo as alas infantil e “Cozinhando com palavras”, além de um estande com exposições, espaço para palestras e uma livraria. O evento começou no dia 2 de julho e vai até o dia 10 de julho no Expo Center Norte. ■

Beatriz Herminio

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