A partir de uma fotografia de um grupo de homens e duas mulheres, tirada em um restaurante em agosto de 1975, a protagonista de Os Memoráveis (LeYa Brasil) inicia uma viagem de volta ao passado para entender de que país veio, de que povo faz parte e quais histórias pessoais “a fizeram nascer e a constituem para sempre”.
Neste novo livro de Lídia Jorge, uma repórter portuguesa que reside em Washington é convidada a voltar à sua terra natal para produzir um documentário sobre a Revolução de 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos. Para isso, entrevista integrantes do movimento revolucionário e testemunhas dos acontecimentos, revisitando os mitos da revolução.
A personagem se surpreende com o efeito da passagem do tempo sobre esses homens e mulheres e sobre sua própria memória – seus anos de infância e início da juventude, muito depois do fim da revolução. No livro, a autora busca o espaço indefinido que existe entre o relato das verdades históricas, às vezes difíceis de enfrentar, e a vida em si, “uma construção da imaginação e da vontade de cada um de nós”.
Para a autora, um memorável não é necessariamente um herói, uma vez que a vida e os seres humanos são bem mais complexos do que percebemos. Um memorável é alguém que merece ser lembrado ou guardado na memória pelo que fez, podendo ter vários rostos. “Ninguém é apenas uma foto fixa”, diz a autora.
Nascida no Algarve em 1946, Lídia Jorge vem de uma família de emigrantes e agricultores. Formada em filologia românica pela Faculdade de Lisboa, foi professora do ensino médio em Moçambique. Em 2020, tornou-se a quarta autora de língua portuguesa a receber o prêmio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara.
É autora de diversos romances, como O dia dos prodígios (1980), O cais das merendas (1982), Notícia da cidade silvestre (1984), A costa dos murmúrios (1988), adaptado para o cinema, O jardim sem limites (1995), O vale da paixão (1998), O vento assobiando nas gruas (2002), Combateremos a sombra (2007), A noite das mulheres cantoras (2011) e Estuário (2018). ■
Beatriz Hermínia