O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participou no último dia 18/02 na cerimónia de entrega do Prémio Camões de Literatura à escritora brasileira Adélia Prado, que foi representada pelo seu filho Eugénio Prado. A solenidade no Palácio Itamaraty, em Brasília, também contou com a participação do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.
“A obra de Adélia Prado é uma janela para o coração de todos os brasileiros e brasileiras e todos os amantes da língua portuguesa. Uma língua com palavras tão belas e únicas, tão especiais e singelas como saudade, coragem e resistência. Palavras que descrevem a potência de Adélia e a força do Brasil”, ressaltou Lula.
Durante o seu discurso, o presidente brasileiro classificou o trabalho da escritora de Minas Gerais como uma fonte de inspiração.
“Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne da sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo. Os seus poemas celebram a presença e o cuidado com que a mãe prepara o café para o pai que faz serão, ou com que o marido limpa um peixe ao lado da esposa. É também com presença e cuidado que se governa”, afirmou Lula, que recordou que a matéria-prima dos textos dela é a experiência do cotidiano.
Por seu turno, Marcelo Rebelo de Sousa destacou que a láurea reflete a relevância da cultura lusófona.
“Este prémio mostra a importância da língua portuguesa, como língua universal. Como universais somos brasileiros e portugueses. Somos assim, sempre, no passado, no presente, no futuro. Falar de Adélia Prado é falar daquilo que é um retrato único de simbiose dessa potência mundial chamada Brasil”, declarou o presidente português, que assinalou que a autora enfatiza a importância do papel da mulher na sociedade.
“O que há de extraordinário em Adélia é o facto de o Brasil ter mudado muito, em termos sociais e religiosos, e a poesia de Adélia ter continuado a ser sempre atual. Mais do que atual, pioneira”, disse.
Ao representar Adélia Prado no recebimento do Prémio Camões, Eugénio Prado, filho primogénito da autora, leu o agradecimento da autora.
“Muito me honra a entrega deste diploma do Prémio Camões. É um dia de muita alegria para mim e, creiam, gostaria de estar presente para comemorarmos juntos”, afirmou a escritora, que não compareceu à cerimónia por questões de saúde.
Nascida em Divinópolis, no estado de Minas Gerais, em dezembro de 1935, Adélia Luiz Prado de Freitas é poetisa, professora, filósofa, romancista e contista ligada ao modernismo brasileiro. A escritora de 89 anos é considerada a maior poetisa viva do Brasil. Em 2024, tornou-se na terceira brasileira e primeira escritora mineira a vencer o Prémio Camões, além de ter vencido o Prémio Machado de Assis do mesmo ano.
A vencedora recebe um prémio de 100 mil euros, o equivalente a mais de R$ 580 mil. O valor é subsidiado igualmente entre as duas instituições que organizam o Camões: o Ministério da Cultura português e a Fundação Biblioteca Nacional, vinculada ao Ministério da Cultura brasileiro. Até 2024, oito mulheres venceram a premiação e quatro delas são brasileiras.
Note-se que o Prémio Camões, láurea mais importante da literatura portuguesa, foi instituído pelos Governos do Brasil e de Portugal em 1988, com o objetivo de estreitar os laços culturais entre as nações que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e enriquecer o património literário e cultural lusófono. Com o nome do maior escritor da história da língua portuguesa — o poeta português Luís Vaz de Camões — o prêmio é atribuído aos autores, pelo conjunto da obra, que contribuíram para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa. ■