De 19 de setembro a 6 de outubro de 2024, foi realizada a terceira edição do Festival Euro-Venezuelano de Jazz nos espaços culturais de Caracas, Maracaibo e Ilha Margarita. Portugal foi representado pela cantora Ana Paula Ferreira de Oliveira, mais conhecida por “Paula Oliveira”, e pelo pianista João Pedro Coelho.
Paula Oliveira é atualmente professora na Escola de Jazz Luís Vilas Boas no Hot Clube de Portugal, conhecido como o clube de jazz mais antigo da Europa, começou a cantar jazz aos 4 anos e estudou canto jazz em Lisboa, Barcelona em Espanha e Nova Iorque nos Estados Unidos.
Participou em vários festivais de jazz em Portugal e também no estrangeiro em países como: Espanha, Alemanha, Itália, Suíça, Suíça, Dinamarca, Estados Unidos da América, Tailândia, Indonésia, Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Esta é a sua primeira vez na Venezuela.
João Pedro Coelho, natural de Lisboa, começou a tocar piano aos 7 anos e completou os seus estudos de piano no conservatório aos 18 anos. Mais tarde, interessou-se pelo jazz, frequentando um workshop no CCB, e concluiu a licenciatura em Jazz e Música Moderna na Universidade Lusíada.
Ao longo do seu percurso musical, participou em seminários com importantes músicos da cena jazzística, tais como: Aaron Goldberg Trio, Albert Sanz, David Doruzka, Kurt Rosenwinkel ou Dave Holland e actuou nos mais importantes espaços culturais de Portugal, como a Casa da Música, o CCB ou o Hot Clube. Ganhou o segundo lugar no “Prémio Jovens Músicos 2013”, em dueto com Gonçalo Neto.
Masterclass A Voz no Jazz
Durante as duas horas e meia de aula, a partir das 10:00, Paula Oliveira ensinou aos alunos interessados como modular o tom de voz durante a curta aula, e o pianista Coelho aconselhou-os a deixarem-se levar pelo som do piano para moderar a voz quando cantam jazz. Na presença de 40 alunos no Mozarteum, entre os espectadores, esteve presente o Adido para a Cultura e Educação da Embaixada de Portugal na Venezuela, Rainer Sousa.
Da mesma forma, três alunos estabeleceram uma ligação direta com Paula Oliveira e João Pedro Coelho quando quiseram cantar algumas peças clássicas de jazz. No final da aula, houve uma ronda de perguntas relacionadas com o género musical do jazz, o percurso profissional dos artistas portugueses e como se iniciar no mundo da música através do canto e dos instrumentos musicais.
“O fado identifica-se com o país e que isso seja visível e se faça essa busca de identidade, por isso canto Jazz em português porque me convida ao encontro com as minhas raízes, apercebi-me que o público estrangeiro, seja na Venezuela ou na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, tem um sentimento e uma emoção muito próxima com as canções e a poesia que o jazz gera” – acrescentou.
Durante a aula, Oliveira cantou para os participantes a música “Venho de Longe e Longe”, onde explicou que é uma letra inspirada naqueles portugueses ou de outras nacionalidades que emigram para países europeus ou outros continentes, uns com sorte e outros que morrem no seu destino, argumentando que por vezes as emigrações deixam saudades com o sentimento intraduzível de saudade.
Tiveram que sair daquele país, um deles a Venezuela, ontem falei dos açorianos conheço a música açoriana, um instrumento “Viola da Terra” dois corações o que ficou e o que partiu, o português é um país de emigração pessoas espalhadas pelo mundo.
Por sua vez, Oliveira comentou que as suas canções são inspiradas nos temas e poemas de Sérgio Godinho, Zeca Afonso e José Saramago, sendo que este último procurou os seus textos e escreveu agora o seu projeto musical “Flor de Saramago”, onde crio canções com os seus poemas, onde faço arranjos e partituras para que a poesia do português vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1998 possa também ser cantada.
Concerto da Delegação Portuguesa de Jazz
Oliveira e Coelho deram a conhecer-se durante as suas actuações, tendo o cantor cantado temas como “Lisboa Amanhece”; “Romeu e Julieta”, “Quando? “Além da dupla portuguesa, músicos de jazz da Polónia e da Suíça também subiram ao palco no sábado, 28 de setembro, no Museu de Arte Colonial Quinta de Anauco, situado na freguesia de São Bernardino, e no domingo, 29 de setembro, na Asociación Cultural Humboldt, ambas na cidade de Caracas.
Com a presença de 100 pessoas na Quinta de Anauco, o Embaixador de Portugal na Venezuela, João Pedro Fins do Lago, expressou nas suas palavras de boas-vindas, como o género musical do Jazz conseguiu unir corações através da magia sonora que transmite, sendo o Jazz uma linguagem de emoções que consegue transformar a sensibilidade das pessoas, contribuindo para o debate e diálogo intercultural.
“Os governos através das suas instituições aproveitam esta oportunidade para dar a conhecer o ideal do jazz além-fronteiras, o que contribui para sociedades mais inclusivas e por isso motivou-nos o facto de Portugal participar pela primeira vez neste festival euro-venezuelano em Caracas, do qual terão o privilégio de ouvir a voz e naturalidade de Paula Oliveira e o pianista João Pedro Coelho que tem um estilo de unir a tradição com influências da arte contemporânea nas suas habilidades” – salientou.
Da mesma forma, Paula Oliveira estabeleceu uma ligação direta com o público de Caracas, pois consegue transformar a poesia de grandes nomes da literatura portuguesa em canções, colocando o Jazz com essência portuguesa e um ritmo de fado sob o talento de João Pedro Coelho. Na sua primeira visita à Venezuela, os músicos de jazz portugueses ficaram entusiasmados com a recetividade do povo venezuelano.
280 pessoas assistiram ao concerto europeio de Jazz no anfiteatro da Associação Cultural Humboldt, localizada na paróquia civil de San Bernardino, Paula Oliveira destacou a simplicidade e a atmosfera cultural que transmite o colonial da Quinta Anauco e o modernismo alemão da Associação Humboldt.
“Sentimo-nos realmente em casa, ficámos maravilhados com a proximidade com as pessoas e a diversidade natural que a Venezuela oferece com o seu belo clima, sei que em breve voltarei a atuar neste país, onde espero conhecer mais das suas gentes e dar a conhecer o Jazz Português à imensa comunidade luso-venezuelana que aqui reside” – expressaram tanto João Pedro Coelho como Paula Oliveira, que espera voltar novamente a atuar na Venezuela e principalmente conhecer as cidades e clubes portugueses no interior do país.
Termina assim a primeira participação de Portugal no Festival de Jazz Euro-Venezuelano, durante a qual tanto o público como os artistas portugueses partilharam e desfrutaram do talento do saxofonista Marek Konarski e do pianista venezuelano Leandro García, em representação da Polónia, e da vocalista e pianista Yumi Ito, acompanhada pelo guitarrista Alessio Cazzetta, em representação da Suíça. ■
Marcos Ramos Jardim
Correspondente na Venezuela