“Os números que a ONU e o Observatório da Emigração têm avançado incomodam-me”, disse Pedro Rupio

“Acredito que ainda seja demasiado cedo para se observarem possíveis movimentos migratórios por causa da guerra”

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Pedro Rupio, membro do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP) e presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa (CRCPE)
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Pedro Rupio, membro do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP) e presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa (CRCPE), conversou com a nossa reportagem sobre as perspetivas para as comunidades portuguesas espalhadas pela Europa, e em outras zonas do mundo.

Este responsável mostrou-se preocupado com temas como o valor pago em termos de pensões e reformas, o ensino de português e as propinas cobradas, o atual cenário mundial, que inclui uma guerra na Europa, mencionou também que a vaga de emigração portuguesa está ainda a decorrer e explicou porquê questiona os números relativos aos portugueses residentes fora de Portugal apontados por organismos lusos e internacionais.

O que a comunidade portuguesa residente na Europa deve esperar em 2023 em termos económicos?

As comunidades portuguesas na Europa poderão sentir dificuldades de ordem económica, haja vista o atual contexto internacional. Já é o caso com a questão dos pensionistas e reformados residentes no estrangeiro que não receberam complemento excecional, e, para os quais, tudo indica que não haverá atualização das reformas e pensões, contrariamente àquilo que tem sempre acontecido. Uma situação de dupla discriminação que denunciámos recentemente ao senhor Primeiro-Ministro.

Acredita que as recentes questões que envolvem o conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, com uma possível crise energética, podem impactar na questão das migrações entre Portugal e os países europeus?

Acredito que ainda seja demasiado cedo para se observarem possíveis movimentos migratórios por causa da guerra. Todavia, se os níveis de inflação permanecerem elevados em 2023, é provável que muitos compatriotas não tenham outra alternativa se não encontrar melhores condições de vida lá fora.

Na sua opinião, e tendo em vista as recentes discussões em torno do ensino da língua portuguesa no estrangeiro, como a língua de Camões deve ser melhor valorizada nos países europeus?

Relativamente ao ensino de português no exterior, será indispensável que as nossas autoridades deixem de pensar que somente interessa apostar em populações estrangeiras neste domínio. Se já existiu, e ainda existe, medo em torno do voto dos emigrantes portugueses, se considerarmos todos os obstáculos que vivemos até agora nessa precisa matéria, a mesma fobia tem-se alargado à questão do ensino nos últimos anos. Se não houver mudança de paradigma rapidamente, somente existirá ensino de português para estrangeiros a médio prazo. Já sentimos esses efeitos na Suíça em que houve uma dramática redução do número de alunos portugueses desde a introdução da propina: se eram 12 mil em 2013, hoje, já são pouco mais de sete mil.

A ONU avançou que existem cerca de dois milhões de portugueses emigrados no mundo. Como vê estes dados?

Os números que a ONU e o Observatório da Emigração têm avançado incomodam-me porque só falam dos portugueses que nasceram em Portugal e que hoje vivem no exterior. Isso exclui todos os portugueses que já nasceram no estrangeiro, o que é o meu caso e o caso de milhões de compatriotas. No total, somos cerca de seis milhões. Há que acabar com essa inconveniente distinção.

Por fim, como caracteriza hoje a comunidade portuguesa residente nos países europeus, do ponto de vista de perfil e ações, movimento associativo e etc.?

Quanto ao perfil das nossas comunidades, diria que se caracteriza pelo seu não-desaparecimento. Ou seja, as vagas de emigração continuam bem vigentes na sociedade portuguesa, o que quer dizer que continua oportuno aplicarem-se políticas públicas que promovem ligações, nomeadamente linguísticas e culturais, entre Portugal e os seus expatriados. ■

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