Quem já pegou o metrô carioca às seis da tarde sabe que aquele vagão é o verdadeiro campo de batalha da existência moderna. Lotado, sufocante, com a senhora da bolsa gigante e o jovem da mochila nas costas que parece ter esquecido que seus ombros ocupam o dobro do espaço de uma pessoa comum. E, claro, não podemos esquecer da clássica freada do condutor, aquele herói invisível que, com um simples toque no freio, nos proporciona um balé descoordenado de corpos espremidos.
Agora, pare e pense: essa experiência no metrô, esse caos seguido de um certo “ajuste”, não é um reflexo perfeito de como a vida e as tendências culturais funcionam? Veja bem, toda nova tendência social — de sapatos coloridos a dietas milagrosas, de gírias absurdas a influenciadores com caras de boneco — começa do mesmo jeito: com um espaço vazio, pronto para ser preenchido. No início, só os mais antenados embarcam nessa viagem, um punhado de sortudos que encontram lugar para sentar no vagão da novidade.
Mas como tudo na vida, nada fica confortável por muito tempo. Em um piscar de olhos, todo mundo quer pegar essa carona. A tendência cresce, incha, até que o vagão começa a lotar. E o que era cool e descolado vira o equivalente a segurar no ferro gelado de um metrô lotado em agosto, com aquele suor compartilhado que ninguém pediu. O frenesi das novas ideias, assim como o vagão, chega ao limite da racionalidade. É o momento em que você olha ao redor e pensa: “Será que precisava disso tudo?”
E aí, como em qualquer jornada de metrô, o inevitável acontece. O condutor — esse maestro da vida urbana — pisa no freio. E é nesse instante que a mágica acontece. Todos aqueles que estavam desordenados, comprimidos, empurrados contra as portas e vidraças, começam a se rearrumar. Um cotovelo aqui, uma mochila ali, e de repente, você descobre que aquele espaço que parecia não existir estava lá o tempo todo.
As tendências, meus amigos, funcionam do mesmo jeito. Elas atingem o ponto de saturação, quando você não aguenta mais ouvir falar daquele novo método de produtividade ou da última série que “você precisa assistir”. É quando chega a freada, a natural perda de interesse, e a cultura se rearruma. Aquela obsessão coletiva vai se dissipando, e o que resta é um ajuste, um espaço mais confortável. A moda vira só mais uma peça no armário, o meme já não faz ninguém rir, e o tal influenciador… bem, ele descobre que nem tudo o que reluz é engajamento.
Esse rearranjo, tal como no metrô, não é uma coincidência. É o momento em que voltamos a ser racionais, em que as coisas finalmente fazem sentido de novo. Não é que a viagem deixou de ser caótica — ainda estamos indo para o mesmo destino, afinal —, mas, de alguma forma, a vida se torna menos penosa quando os corpos se acomodam nos espaços disponíveis.
Então, da próxima vez que você estiver se esgueirando no vagão lotado, lembre-se: aquela freada brusca não é só um tropeço qualquer. É o universo, gentil e impiedoso, dando um jeito de nos rearrumar, seja no metrô ou no grande trem das tendências. Porque, no fim, a vida é mesmo assim — um eterno sobe e desce de modas, ideias e sonhos, até que o condutor resolve apertar o freio, e todos nós, de alguma forma, encontramos o nosso espaço. Ou, pelo menos, um lugarzinho para respirar.
Agora, se o vagão vai parar de lotar? Ah, isso é outra história. ■
André Aguiar
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Head de Marketing | Palestrante | Professor Faculdades UNICORP | Especialista em BI e Análise de Dados | Pós Graduado em Mídias Sociais | MBA em Marketing Digital