Opinião: “Fortis fortuna adiuvat: A Sorte favorece os Corajosos”, por Marivia Brandão

"Talvez seja essa a relação da sorte com a coragem: ambas somam-se durante o movimento"

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Marivia Brandão é Consultora Internacional em Gestão
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Minha tradição familiar costuma honrar os mais velhos e o valor de sua sabedoria e experiência através de um importante hábito ensinado às crianças, que é o de reverenciar os avós pedindo-lhes a bênção. Quando meus filhos pedem à minha mãe que os abençoe, imediatamente ela conecta-se com uma lembrança que muito a emociona. Ela lembra que, quando criança, ao pedir a bênção à sua avó, ela respondia-lhe: “Que Deus te dê boa fortuna!”.

A princípio, essa expressão poderia indicar o desejo de que seus netos viessem a ter riqueza material, mas a verdadeira intenção dessa expressão da minha bisavó é que seus descendentes fossem “afortunados”, ou seja, que tivessem sorte e felicidade em suas vidas.

No latim, fortuna tem o significado de sorte. É nessa língua que se origina uma expressão que, para mim, é inquietante: Fortis fortuna adiuvat. Não se sabe ao certo o autor e são várias as traduções que podem ser encontradas para essa frase, como “a fortuna favorece os bravos”, “a sorte sorri aos audazes”, “a sorte protege os audazes”,”a sorte favorece os audazes” e, finalmente, “a fortuna favorece os corajosos”. Tomei a liberdade de definí-la de acordo com meu simples entendimento: a sorte favorece os corajosos.

Aqui vale um adendo com um interessante detalhe encontrado nas pesquisas sobre essa citação.  Conta-se que, em sua obra Adágios, Erasmo de Roterdão fez-lhe uma referência figurativa, afirmando quenão devemos viver as nossas vidas como animais que se escondem no interior das suas carapaças”. Em outras palavras, é preciso dar os nossos passos para recebermos as coisas que a fortuna, a sorte ou o destino possam vir a nos trazer.

Volto à definição de que a sorte favorece os corajosos, pois realmente acredito nisso. A sorte anda lado a lado com a coragem, mas não só no sentido do mero acaso e sim pela própria conduta do corajoso de lançar-se ao desconhecido. Entendo “sorte” como um não-sei-quê que acontece e favorece algumas ocasiões, mas que o entendimento comum não consegue explicar. Porém, não é porque não se explica que não exista.

Talvez seja essa a relação da sorte com a coragem: ambas somam-se durante o movimento. Quando rompe com as limitações comuns do medo e o indivíduo age na direção do que quer, motivado por um pacote que envolve ânimo, bravura, destemor e determinação, costumeiramente ele encontra em seu caminho alguma situação que propicia o sucesso da sua empreitada.

É claro que não é prudente arriscar-se e contar somente com a abstração da sorte (como acaso), mas há que se estar aberto ao novo durante o processo. Afinal, a principal característica da coragem é acreditar, mesmo que ninguém mais acredite. A vida costuma apresentar surpresas e a certeza apresenta-se primeiro dentro da gente, só depois expande para o mundo.

Assim, corajoso é aquele que se atreve a ir além, mesmo que o meio externo não perceba como positiva a sua ousadia. Ele simplesmente sente, tem uma convicção profunda e inerente de que fará dar certo, até porque ele não desiste e vai adiante até conseguir o que pretende.

Esse não é um decurso simples, fácil e muito menos irresponsável. Os desafios são enormes, quase sobre-humanos, exige muito em vários níveis, principalmente nas questões emocionais e sociais, pois normalmente há muita cobrança e expectativa envolvidas. Entretanto, é geralmente quando se chega no ponto em que se beira o desânimo e a desesperança, quando não há mais quem acredite nele a não ser ele mesmo, que algo inexplicável acontece e favorece seu empenho. É a isso que se costuma chamar de “sorte”.

Se for pensar sobre os grandes feitos humanos, as grandes invenções e descobertas científicas em todas as áreas, foram várias aquelas que contaram com o inimaginável em seu êxito. Os exemplos são variados, como o do micro-ondas, que foi desenvolvido após a observação de um chocolate derretido; o pneu, que só existe porque um pedaço de borracha foi exposta ao calor durante uma experiência mal sucedida; o raio-X, concebido após testes com radiação e o inusitado uso de uma chapa fotográfica; o marca-passo, descoberto por engano, na tentativa de se criar um aparelho que gravasse o som das batidas do coração; entre outros tantos.

A verdade é que tudo o que está já construído foi antes imaginado, sonhado, desenhado, planejado e depois realizado por alguém. Há uma crença positiva antes de se realizar qualquer coisa. Em geral envolve muito esforço e uma desgastante sequência de tentativas e experimentos até que o esperado acerto seja alcançado.

Desfrutamos hoje em dia de regalias e confortos que nem sequer imaginamos o quanto de adversidade esteve envolvida na vida daqueles que insistiram em realizar e criar “o diferente que fez a diferença”. A grande realização que bem ilustra isto é o tão conhecido desenvolvimento da lâmpada elétrica pelo inventor Thomas Edison, que utilizou 6.000 tipos de materiais diferentes até encontrar o filamento ideal e realizou mais de 1.000 experimentos até triunfar em seu propósito. Graças a todo esse esforço, atualmente custa ao restante da humanidade apenas o apertar de um dedo para desfrutar de uma lâmpada acessa.

Para mim é muito fácil identificar que essas características dos bravos e fortes realizadores estão associadas ao empreendedorismo. Empresas de bom êxito muitas vezes provêm do afinco e persistência de alguém que, por falta de mais recursos, contou apenas com a coragem para suplantar riscos, agindo com firmeza e obstinação até obter resultados favoráveis.

Venho de uma geração de empreendedores, formada por avós e pais que nunca desistiram de lutar pelo que acreditam e fizeram seus negócios prosperarem, apesar de ventos contrários. Agora assisto meu marido, também fruto de empreendedores audazes, a investir seu melhor em cada ação, a respirar e inspirar vontade, consistência, constância, insistência, paciência e resiliência no desenvolvimento de algo que, no futuro, parecerá fácil. A eles dedico a reflexão deste texto, além da minha eterna admiração.

Embora só costume aparecer e despertar interesse quando se comemora no pódio, o caminho de quem vence é muito árduo. Os sorrisos da vitória são reconhecidos e aclamados, mas as lágrimas diárias extraídas da alma é segredo para poucos. Cada passo é uma dor diferente, cada execução envolve erros e superações que apenas conhece quem está envolvido diretamente no processo. Onde o calo aperta só quem está a caminhar é que sabe. Contudo, calos nunca pararam os bravos. Apenas sigam. Desejo que a sorte alcance-os! ■

Marivia Brandão

Consultora internacional em Gestão, Especialista em Relacionamento Empresa-Mercado, Mestre em Empreendedorismo e Criação de Empresas, Especialista em Desenvolvimento Humano, Formadora e Analista Sênior de Perfil Comportamental mariviasbrandao@gmail.com

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