Há alguns anos, o Rui Pedro foi detido em Abu Dhabi. Tinha consigo uma pequeníssima dose de droga para uso pessoal. Eram apenas duas gramas, mas tal é um crime grave neste e noutros países do Oriente.
Tinha 23 anos. Estava na primavera da vida e cometeu um erro que tantos dos nossos filhos cometem.
Foi condenado a 10 anos de prisão. A sua Mãe gastou o que tinha e o que não tinha para lhe garantir uma defesa digna. Claro que entrou em desespero total pois poucos a ouviram e entenderam o inferno em que vivia…
Entretanto, eu tive conhecimento desta situação dramática e falei com ela pouco tempo depois de termos chegado ao Governo. A sua mágoa era enorme e sentia-se abandonada e só, a lutar com meios perfeitamente desiguais.
Com uma ajuda muito especial da nossa diplomacia naquele País, pensámos em soluções… A última foi um pedido de perdão às autoridades locais. Por duas vezes, eu próprio formalizei tal pedido.
Recentemente soubemos que tal perdão foi finalmente concedido pelas autoridades dos Emirados. Sinceramente, senti um enorme alívio e a sensação de que vale a pena estar na política. Os cinco anos que aquele jovem, agora com 28 anos, passou na prisão já são uma pena suficiente para perceber que há leis e regras que, em sociedade, têm de ser respeitadas.
Acho que conseguimos dar um contributo forte para acabar com o martírio daquela família. Claro que sei que muitas vezes tentamos e não conseguimos. Já me aconteceu no passado. Mas, desta vez, foi possível! Agradeço ao Embaixador Fernando Figueirinhas e aos seus colaboradores a extraordinária ajuda que nos deram. Espero que aquela Mãe e o seu
filho tenham um Natal mais feliz. E também espero que todos consigamos aprender as lições resultantes deste e doutros casos semelhantes.
Há coisas que em Portugal e em muitos outros países são banais, mas que noutros locais são graves crimes, que destroem vidas de tantas e tantas famílias.
E é bom que todos tenhamos consciência que abundam estas situações nas nossas comunidades e entre os círculos dos nossos conhecidos. Conheço tantas pessoas que sempre tiveram um discurso implacável contra a conduta de quem entra no mundo das toxicodependências, mas que rapidamente mudam de tom quando estes dramas entram pela sua casa dentro!
Já vi muito na minha vida e daí que cada vez compreenda menos os discursos radicais e securitários sobre estas e outras matérias.
Por isso me envolvo e envolverei na ajuda a quem, como neste caso, comete um pequeno erro e é sujeito a tratamentos desproporcionais. É tão frequente entre portugueses por esse mundo fora!
Faço-o em obediência aos valores humanistas e personalistas baseados na doutrina social da Igreja e na ideologia social-democrata e liberal, que sempre advoguei.
Pelo menos desta vez, sinto que valeu a pena. Vamos continuar…
A todos, sem exceção, portugueses que vivem por este mundo fora, com maior ou menor sucesso, mais jovens ou mais idosos, sem esquecer os que se encontram privados da sua liberdade e vivem dramas idênticos aos da família do Rui Pedro, desejo um Santo e Feliz Natal e um Ano Novo mais feliz e com mais paz. ■
José Cesário
Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas