Oradores de oito países (Alemanha, Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Espanha, México, Portugal e Suíça) debateram várias temáticas de índole etnográfica nas II Jornadas Internacionais de Etnografia – Leiria 2022 (JIEL), no passado dia 12 de novembro, no auditório do Monte Real Hotel (Monte Real, Leiria), numa organização do Agromuseu Municipal Dona Julinha e Câmara Municipal de Leiria, perante a presença de cerca de 180 participantes e mais de 340 pessoas “on line”.
Segundo Adélio Amaro, coordenador das JIEL, estas “têm como objetivo continuar a profundar o estudo amplo da Etnografia, apresentando fontes de conhecimento de díspares áreas e valências, oriundas de diversos lugares do mundo, tendo como base a pesquisa e investigação dos historiadores, antropólogos e investigadores que aprofundam o seu trabalho, incluindo o estudo no terreno, com o intuito de valorizarem, através da pesquisa e registo, as tradições, tendências e capacidades dos povos”.
O dia de partilha e debate iniciou com as intervenções de Paula Jorge, presidente da União das Freguesias de Monte Real e Carvide e de Gonçalo Lopes, presidente do Município de Leiria que enalteceu a organização e identificou as JIEL como sendo uma “maneira muito diferente de podermos refletir e melhorar aquilo que é o desempenho da Etnografia no contexto nacional e internacional”, acrescentando que as JIEL são “um momento de partilha de informação, com oradores com muita experiência a darem o seu contributo e a sua visão sobre os mais diversos temas… sendo uma oportunidade para fazer uma viagem pelo mundo, porque este é um evento de dimensão internacional que tem o arrojo de abrir fronteiras, para, também, conhecermos a realidade de outros países. Este evento é algo de excecional que nos dá uma visão para o mundo e que nos liberta de preconceitos. Esta é a grande vantagem deste tipo de encontros”, concluindo que “ter a sala cheia é sinal da qualidade do evento, de quem organiza e que mostra que na nossa região estamos muito unidos nesta temática”.
O primeiro de quatro painéis, “Etnografia na Cerâmica e na Olaria”, coordenado por Luís Miguel Narciso, Arquivo Municipal de Leiria, contou com as intervenções de José Luiz de Almeida Silva, coordenador executivo da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas, que abordou o tema “A Cerâmica na origem da Humanidade: Água, Fogo, Terra e Ar”. Vane Calvimontes Díaz, com mestrado em “Gestão do Património Cultural”, doutoranda da Universidade de Salamanca, natural da Bolívia e a lecionar na Alemanha, deu a conhecer o tema “De la descripción a la colaboración. La experiencia del Museo Nacional de Etnografia Y Folklore da Bolívia”. A terceira interveniente foi Ana Seiça, investigadora colaboradora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que enalteceu o trabalho feito pelos oleiros da Bajouca ao longo do tempo, apresentando o tema “«Até o barro tem poesia»: notas sobre a Olaria da Bajouca”.
O segundo painel, “Saber-fazer da Tradição ao Contemporâneo”, com a moderação de André Camponês, Techn&Art – Instituto Politécnico de Tomar, teve as intervenções de Gonçalo Cardoso, coordenador do serviço de inventário da Fundação Manuel Cargaleiro, que deu a conhecer “Elementos Etnográficos na Arte Contemporânea”, assim como Elis Angelo (Brasil), Bacharel em Turismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que desenvolveu a temática sobre a “Rendas de Bilro como património imaterial: A viagem do saber-fazer pelo Mundo”, realçando esta prática em Peniche, nos Açores e em Santa Catarina, no sul do Brasil. A terceira oradora foi Filomena Vicente (Cabo Verde), presidente da Associação Caboverdeana, que através de um pequeno filme e com o esclarecimento das suas palavras deu a conhecer o “Panu di Terra”, muito característico de Cabo Verde. Os trabalhos da parte da manhã encerraram com a interpretação de três Mornas de Cabo Verde por parte do grupo da Associação Caboverdeana.
A tarde iniciou com quatro modas da Alta Estremadura. As duas primeira foram interpretadas pela tocata do Rancho Folclórico Rosas da Alegria de Sismaria e as outras duas pela tocata do Rancho Folclórico Rosas do Liz da Carreira.
O terceiro painel, primeiro da tarde, “Da Música Tradicional ao mundo criativo”, teve a coordenação do jornalista Nuno Jesus e contou com três oradores. Daniel Bernardes, Diretor Artístico Leiria Cidade Criativa da Música, que deu a conhecer o projeto “Leiria Cidade Criativa da Música – UNESCO: estratégias para o futuro”. Orlando Trindade, Violeiro – Luthier apresentou o tema “A Viola Toeira pelo olhar do Violeiro”, explicando o processo de restauro de uma Viola Toeira. A encerrar o painel, Emiliano Toste (Açores), produtor e editor, apresentou o seu projeto “As Coletâneas AÇOR” que conta com centenas de recolhas em todo o país.
O quarto e último painel das JIEL, “A importância do Associativismo na Etnografia”, moderado por Adélio Amaro, coordenador da JIEL e presidente do Centro do Património da Estremadura, contou com as participações de Daniel Café, presidente da Federação do Folclore Português, que desenvolveu o tema “Os Grupos de Folclore enquanto agentes culturais transmissores de valores e identidades” e João Alexandre, presidente da Federação Portuguesa dos Jogos Tradicionais, que além de apresentar as ações da Federação que preside, salientou o tópico “Jogos Tradicionais: património imaterial e da humanidade”.
A sessão de encerramento foi da responsabilidade de Anabela Graça, Vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria que engrandeceu o dia de trabalho que resultou na partilha e na reflexão em conjunto “com pessoas com conhecimento” e que as JIEL “tiveram como objetivo, e vão continuar a ter, aprofundar o nosso estudo no âmbito da Etnografia, apresentando fontes de conhecimento de valências muito diferentes, como percebemos pelos quatro painéis que tivemos, e aprofundar e a refletir sobre o trabalho que estamos a realizar”. Anabela Graça acrescentou que “de acordo com o plano estratégico da Cultura do Município de Leiria, esta é uma dimensão que queremos apostar. A dimensão do conhecimento na área da Cultura, nomeadamente na Cultura Popular”, referindo que “os temos que foram apresentados pelos vários oradores, de várias partes do mundo, fizeram-nos pensar sobre o nosso património e as nossas ligações pelo mundo, através dos seus trabalhos minuciosos que a todos nos ajudou a enriquecer o nosso conhecimento”.
Quase a concluir a vice-presidente do Município deu a conhecer que a “Câmara Municipal pretende dar novos passos para aproximar, mais, todos os parceiros porque é extremamente importante este diálogo entre a associações, as federações e o associativismo em geral porque esta aproximação é importante pela valorização que as associações merecerem. Hoje foi um dia de conhecimento que é fundamental para mantermos a nossa memória coletiva, valorizarmos a nossa identidade e o nosso património”.
A vice-presidente anunciou que em 2023 será publicado um livro com as atas e as intervenções de todos os oradores das primeiras e segundas Jornadas Internacionais de Etnografia, encerrando o evento anunciando que as III Jornadas Internacionais de Etnografia – Leiria 2023 serão no dia 18 de novembro de 2023, no Teatro Miguel Franco, em Leiria. Em 2024 a iniciativa voltará a outra freguesia fora do centro urbano, continuando a política cultural de descentralização.
As oito horas da JIEL estão patentes em:
https://www.youtube.com/watch?v=HXKd9IeMPN4&t=575s&ab_channel=SaraCorreia-Topic
Colaboração
As JIEL 2022 têm a parceria da Fundação INATEL e a colaboração de um conjunto de instituições de enorme relevo e forte credibilidade: Associação Bajouquense para o Desenvolvimento; Associação Caboverdeana (Cabo Verde); Associação Folclórica da Região de Leiria – Alta Estremadura; Académi des Lettres et Arts Luso-Suisse (Suíça); Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas; Centro do Património da Estremadura; Eco Academia de Letras, Ciências e Artes de Terezópolis de Góiás (Brasil); Federação do Folclore Português (FFP); Federação Portuguesa dos Jogos Tradicionais; Grupo de Investigación en Mvseus y Patrimonio Iberoamericano (Espanha); In/Comparáveis Agência (Brasil); Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (Brasil); Leiria Cidade Criativa da Música – UNESCO; Mosteiro da Batalha / Direção Geral do Património Cultural; Sociedade Iberoamericana de Antropologia Aplicada, Salamanca (Espanha) e União das Freguesias de Monte Real e Carvide. ■