Residente em Genebra há 23 anos, o jornalista e escritor brasileiro Jamil Chade foi um dos autores participantes na 11ª edição do tradicional Festival Literário de Araxá (Fliaraxá), que foi realizado no Estádio Municipal Fausto Alvim, no Centro de Araxá, no estado de Minas Gerais, Brasil, entre os dias 5 e 9 de julho, com entrada gratuita. Foi também o segundo autor com o maior número de obras vendidas ao público durante o festival, segundo a organização do evento.
O tema “Educação, Literatura e Património” norteou os debates e palestras deste evento lusófono, que contou com a participação de autores homenageados, como Mário de Andrade, Eliana Alves Cruz e Líria Porto. Alguns dos principais nomes da literatura brasileira e internacional estiveram presentes. Além disso, houve atrações infantis, juvenis, Prémio de Redação, lançamentos de livros, concertos e uma feira gastronómica.
Jamil Chade contou com três participações de peso no evento. No dia 6, esteve no painel “Os novos muros: as vidas sequestradas de imigrantes e refugiados no século 21”; no dia 7, ao lado de Juliana Monteiro, abordou o tema “Cartas do estrangeiro: considerações sobre a inserção do país no mundo pela correspondência de dois brasileiros no estrangeiro”; já no dia 9, Jamil Chade participou no seu último painel que contou com o tema “A construção da humanidade: os 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os bastidores das negociações de um texto que serve de bússola para a Humanidade”.
Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, este jornalista e escritor, que participou pela primeira vez numa edição do Fliaraxá, afirmou que este foi um dos festivais literários “mais bem organizados” que alguma vez presenciou e que o facto de ser voltado para a comunidade local tornou este certame diferenciado.
“Não é um festival voltado para estrangeiros ou turistas, mas, sim, para a comunidade local. O evento assume um papel fundamental para a própria população”, frisou Jamil Chade, que destacou, ainda, que o Fliaraxá consegue contar com um nível alto de participantes, com grandes nomes do cenário literário nacional e internacional, mesmo sendo realizado fora do eixo das grandes cidades brasileiras.
Sobre a realização de iniciativas como o Fliaraxá, Jamil Chade, que tem 47 anos de idade e é natural de São Paulo, no Brasil, acredita que é “fundamental”, porque “permite o diálogo entre as comunidades que falam português.
“A identidade nacional não é mais o único elemento de identificação. A língua portuguesa precisa ser um veículo de diálogo entre as populações”, avançou este escritor.
Na opinião de Jamil Chade, que chegou ao país helvético no ano 2000, o Fliaraxá é uma iniciativa “onde todos cabem”, como o movimento negro, e que tem espaço para debates importantes, num exercício de “descolonização das mentes”.
A estrutura contou com três auditórios, grande livraria, área de leitura e lazer, num espaço de mais de dois mil metros quadrados. A curadoria da programação adulta nacional foi realizada, em comum, por Tom Farias, Sérgio Abranches e Afonso Borges, este último, presidente do Fliaraxá. O programa infantil ficou a cargo do professor e escritor Rafael Nolli. A autora homenageada foi a poeta araxaense Líria Porto, ao lado da escritora e jornalista Eliana Alves Cruz. O Fliaraxá aconteceu em formato figital, ou seja, com programa presencial e digital.
“Saio daqui impressionado com a força deste movimento”, assegurou-nos Jamil Chade no final de um dos seus painéis.
Por seu turno, Afonso Borges, presidente do Fliaraxá, sublinhou o compromisso do evento com o planeta ao anunciar uma parceria com o Instituto Terra, uma organização brasileira sem fins lucrativos que se dedica à conservação e recuperação do meio ambiente. Neste sentido, foram também neutralizados os gases de efeito estufa liberados durante a realização do Festival, além de se fortalecerem ações que visaram incrementar a educação ambiental e, no futuro, a recuperação de nascentes. ■