“Insegurança” leva diplomata português a cessar funções no Rio de Janeiro

João de Deus lidera as funções

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Na altura, dada a dimensão desta situação, Luís Gaspar da Silva foi contatado pelo presidente de Portugal
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No último dia 25 de janeiro, o cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro, Luís Gaspar da Silva, cessou funções na cidade maravilhosa, poucos dias antes de completar um ano no cargo. Segundo apurámos, este diplomata, que foi designado recentemente Embaixador de Portugal na Namíbia, tomou esta iniciativa fruto de uma “decisão pessoal”, que, segundo fontes, têm que ver com os momentos de insegurança que viveu quando a sua residência oficial, o Palácio São Clemente, localizado em Botafogo, na Zona Sul do Rio, foi invadida em outubro do ano passado por bandidos que fizeram o cônsul-geral e a sua família reféns. Não houve feridos, de acordo com relatos das autoridades brasileiras.

Na altura, dada a dimensão desta situação, Luís Gaspar da Silva foi contatado pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do seu país, Augusto Santos Silva, que reforçou que o episódio não contou com “exercício de violência, nem feridos, mas foram furtados vários bens pessoais do senhor embaixador”. Foram feitas investigações na mata nos arredores do Palácio, onde foram encontrados objetos que estão a ser alvo de perícia pela polícia do Rio.

Fontes ligadas ao diplomata relatam que toda esta situação “mexeu com a família de Luís Gaspar da Silva, que, por motivos de segurança, decidiu deixar o Rio de Janeiro e partir para um novo destino diplomático”.

Nos últimos dias, em tom de despedida, Luís Gaspar da Silva conversou com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, mas não conseguiu alinhar agenda com o governador do Rio, Cláudio Castro. Ofereceu dois almoços no Palácio São Clemente às lideranças das Casas Regionais e das instituições portuguesas na cidade e aos empresários lusitanos locais.

João de Deus “assume” o comando do consulado

Esta unidade diplomática no Rio de Janeiro, que conta com centenas de atendimentos mensais, vai ser agora liderada pelo cônsul-geral adjunto de Portugal no Rio, João Marco de Deus, que está neste cargo há quase cinco anos.

“Posso dizer que vou assegurar a plena normalidade do funcionamento do consulado-geral no Rio na expetativa da vinda de um novo cônsul-geral, algo perfeitamente normal na nossa profissão”, destacou João de Deus, que mantinha uma grande proximidade de gestão do consulado ao lado de Luís Gaspar da Silva.

Segundo apurámos, João de Deus tem enorme experiência no campo diplomático. Aos 45 anos de idade, é, desde agosto de 2017, cônsul-adjunto de Portugal no Rio de Janeiro. No passado, manteve profundas ligações com a comunidade portuguesa na Suíça, quando atuou, de 2009 a 2014, como Chefe de Missão Adjunto na Embaixada de Portugal em Berna. No Brasil, passou também pelo consulado-geral de Portugal em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais.

João de Deus tem dois filhos, Joana e Bernardo, de 14 e 10 anos, respetivamente. A sua esposa, Leelia, nasceu na Estónia, no Norte da Europa, mas, ao longo de quase 20 anos de “andanças diplomáticas”, já demonstrou ser mais portuguesa do que muitos portugueses”.

Ex-cônsul-geral passou pela ONU

Agora na Namíbia, Luís Gaspar da Silva ingressou como cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro no dia 2 de fevereiro de 2021. Aos 63 anos de idade, chegou ao Brasil com uma grande bagagem no eixo diplomático, tendo passado por experiências no continente africano, na Europa e nas Nações Unidas.

Durante a sua carreira, apresentou várias candidaturas a postos consulares no Brasil, sem sucesso. Diz-se defensor da ligação entre os países, sublinhou que o Brasil deverá assumir em algum momento uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, fruto da sua atuação “em prol da paz e da segurança mundiais” no Haiti e na Guiné-Bissau e também pelo seu “peso diplomático nos cinco continentes”.

Ainda em outubro de 2021, numa das poucas oportunidades que teve de participar em eventos públicos do movimento associativo português no Brasil, em virtude da pandemia de Covid-19, este diplomata foi um dos presentes no centenário da Obra Portuguesa de Assistência, então presidida pelo recém-falecido Agostinho dos Santos, numa cerimónia que decorreu nas instalações da Casa do Minho do Rio de Janeiro, que contou com o envolvimento de uma extensa comitiva vinda de Portugal, incluindo a Secretária de Estados das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes; o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Sales; o Embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos; o Deputado Eleito pelo círculo de “Fora da Europa”, Paulo Porto; bem como de outras autoridades brasileiras, como a da deputada estadual pelo Rio de Janeiro, Martha Rocha, da vereadora Teresa Bergher, também em atuação no Rio, do Secretário de Relações Internacionais de Macaé, Alexandre Cruz, dos presidentes de movimentos associativos portugueses, do presidente do Real Gabinete Português de Leitura do Rio, Francisco Gomes da Costa, e de empresários portugueses e luso-brasileiros. Viu a fadista portuguesa Maria Alcina, radicada há anos no Rio, cantar e encantar com o tom característico de Portugal.

Embora não haja ainda uma data formal para a apresentação de um novo cônsul-geral para o Rio de Janeiro, comenta-se que um nome deve ser apresentado até ao mês de abril deste ano. ■

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