Que Portugal é o país dos festivais durante o Verão ninguém tem dúvidas. Muitos espetáculos acontecem um pouco por todo o país, incluindo as festas de aldeia. Em meio a plateia, não estão apenas os portugueses residentes, mas, também, os membros da diáspora, que aproveitam esta época do ano para deixarem os seus países de acolhimento e visitarem Portugal a espera de reencontrar amigos, familiares e memórias.
A comunidade portuguesa espalhada pelo mundo cruza as fronteiras do país pela parte terrestre e aérea. Este ano, a nossa reportagem acompanhou alguns destes eventos em solo português para saber, dos artistas que abrilhantam os cartazes e que atraem multidões, como é formatado um espetáculo de conexão e boa receção para este público especial, que acompanha o cotidiano lusitano, a sua terra natal, à distância, tendo milhares de quilómetros e mares imensos no caminho.
Em agosto, em Castelo Branco, o Festival Mais Solidário reuniu cantores como o angolano Matias Damásio e os Calema, de São Tomé e Príncipe, entre outros. Encontramos na multidão muitos portugueses que vivem em países como a Suíça, França, Luxemburgo, Bélgica e Reino Unido. Antes da sua apresentação no evento, ainda nos camarins, Matias Damásio reforçou, à nossa reportagem, ser importante estar próximo do público.
“Quero dar o máximo, obviamente, fazer um espetáculo lindo à altura deles, porque estão aqui. Preparamos um espetáculo bonito, cheio de energia, ritmos africanos, romantismo. Uma verdadeira festa, acima de tudo. Podem esperar o melhor de mim, tudo o que eu tenho, com toda a minha alma e com toda a minha arte para dar ao público maravilhoso que nos presenteia”, disse Matias Damásio, que tem conquistado sucesso no âmbito musical português.
No fim do espetáculo dos Calema, conversamos com a dupla de irmãos António e Fradique sobre a presença de muitas crianças na assistência, que interagiram com a banda. Jovens que vivem emigrados e encontram em Portugal, sobretudo no verão, um momento especial de diversão.
“Para nós é um privilégio vermos que a nossa música é transversal e toca um tipo de público, desde as crianças até aos mais velhos. É um orgulho enorme porque é resultado que a nossa música, a mensagem que nós passamos, está a ser passada e as pessoas estão a perceber, e isso nos enche o coração e dá-nos ainda mais motivação para continuarmos a fazer música e a trazer este amor para as pessoas”, argumentou a dupla.
Mais ao Norte do país, estivemos em Souzanil, Canedo, em Santa Maria da Feira, onde, em julho, cantores como Toy e a Bandalusa apresentaram-se para um grande público durante as festas em honra de Santa Ana. Um local que conta com muitos emigrantes no Brasil e em França.
Também nos camarins, antes do espetáculo, falamos com Paulo Ribeiro, da Bandalusa, sobre a importância do público da diáspora nos seus concertos e, ainda, sobre a relação de respeito com esses cidadãos emigrados.
“Atuar no estrangeiro é um sentimento muito grande. Estamos a quilómetros de casa e o nosso trabalho ser reconhecido, isso é fantástico. Quando atuamos no estrangeiro, levamos Portugal para mais próximo daquele público. Levamos as nossas canções, os nossos hábitos, as nossas culturas e, hoje, estamos aqui para conseguir transmitir a mesma mensagem a esses emigrantes que estão a passar alguns dias em Canedo. É transmitir aquela mensagem das músicas da nossa vida”, comentou Paulo Ribeiro.
Nesse mesmo tom, o cantor Toy confirma que a sonoridade ajuda nessa receção calorosa aos emigrantes.
“A música começa por ser a linguagem mais entendida em todo o mundo. Não há dois tipos de linguagem musical. As línguas são diferentes, mas a música é entendida por toda a gente. A importância que a música tem é que, mesmo sem palavras, conseguimos transmitir sentimentos. A música pode parecer triste, pode parecer alegre, pode transmitir nostalgia, felicidade, amor. A música é uma forma de comunicabilidade, aliás, é a primeira forma de comunicação dos povos, através do som e da música, e ela transmite sentimentos. Ora, se transmite sentimentos, nós conseguimos, através da música, levar sentimentos a quem está em outro país, o sentimento da saudade, o sentimento de preservar o que está na terra, um sentimento de recordação”, disse Toy.
Fernando Santos, presidente da Comissão de Festas em Honra de Santa Ana, em Souzanil, acredita que estas festividades ajudam a conectar as freguesias e a comunidade emigrada.
“Em Souzanil tivemos quatro dias de festas com dois grandes artistas em palco. Eles comunicam muito bem com a comunidade portuguesa emigrada. Temos muitos emigrantes aqui nesta região que voltam para festejar. A maioria está em França”, revelou.
“O nosso território tem muitas festas, é uma característica do Norte de Portugal, e tem a ver um bocadinho com a nossa tradição religiosa cristã. Agora tem uma grande relação com a nossa comunidade. Eu também sou filho de emigrantes. (…) É o mês de agosto que nós dizemos sempre que é o mês do imigrante, mês de julho, que é o mês das festas e este regresso à terra, este regresso às origens é o percebe esta extraordinária cultura que nos amarra, nós podemos estar em qualquer canto do mundo, sentimos cá dentro, no nosso âmago, alguns dizem que é saudade e alegria de estar outra vez na nossa terra, no meio da nossa comunidade, onde nos sentimos bem, é isto que fizemos”, recordou Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Como vimos, as festas populares em Portugal desempenham um papel fundamental na preservação da cultura e na conexão com a diáspora portuguesa que retorna ao país durante as férias. Estes eventos celebram tradições enraizadas, seja através de festivais religiosos ou eventos regionais que destacam a gastronomia, música e dança locais.
Para os membros da diáspora, estas festas oferecem uma oportunidade única de reconexão com as suas raízes culturais e familiares, permitindo-lhes mergulhar na atmosfera festiva e partilhar experiências com os habitantes locais. Além disso, a participação ativa na organização e celebração desses eventos ajuda a reforçar o sentimento de identidade portuguesa, unindo as gerações mais jovens aos valores e tradições transmitidos pelos seus antecessores. Sim, as festas populares funcionam como pontes emocionais entre a diáspora e o país de origem, reforçando os laços culturais e fortalecendo o senso de pertencimento de todos os que participam. ■