Escritor português, Afonso Cruz esteve em painel sobre “descolonialidade linguística” em festival no Brasil

"A língua portuguesa europeia está em extinção"

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Afonso Cruz, autor português
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O autor português Afonso Cruz, Geni Núñes e Tom Farias abordaram a diversidade linguística e as relações afetivas a partir do conceito de descolonialidade durante a 12º edição do Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá, na Fundação Calmon Barreto, que decorreu entre os dias 19 e 23 de junho, no estado brasileiro de Minas Gerais.

Geni constrói saberes na interseção entre o ativismo indígena e a academia. O seu campo de estudos passa pela compreensão da relação entre a religião e a dominação de povos indígenas. Ela olha especificamente para a construção dos afetos. “Minha família, a exemplo de outras famílias indígenas e negras, sofreu a evangelização compulsória”.

Nesse processo de evangelização, Geni foi selecionada para ser missionária junto ao seu povo, mas não seguiu por esse caminho. A opção foi a contrária de questionar uma fé única, a ideia de pecado e como essa fé implica nas concepções de amor. Na academia, ela estuda cartas jesuíticas para entender o que ela denomina de sistema de monoculturas – única língua, única forma de amar, único jeito de estar no mundo.

O primeiro aspecto proposto por Geni nesse exercício de descolonizar o pensamento é mudar a ideia de que o Brasil não foi descoberto. “O Brasil foi inventado”. É preciso desvelar o que ela chama de “Caravela epistémica” que encobre saberes e conhecimentos que já existiam antes da chegada dos colonizadores. “A nossa maneira de nomear foi barrada pela forma impositiva de narrar o mundo”, diz. O convite feito a todos é repensar palavras como “bem”, “família”, “caridade”, “amor”.

Tom Farias pontuou que a língua portuguesa não é mais uma língua europeia. No Brasil, por exemplo, o português se transformou com as línguas indígenas e dos povos negros. A língua portuguesa europeia está em extinção. Afonso Cruz lembrou que, mesmo em Portugal, há muitas variantes do português, mas o falado em Lisboa é o hegemónico. Afonso fez uma reflexão sobre a proporção entre o número de línguas faladas no mundo e o número de países existentes.

Afonso pontuou que não há uma equivalência entre número de línguas e países: o número de línguas é muito maior do que o número de países. No entanto, o escritor  chamou atenção para um dado preocupante: a cada quinze minutos, desaparece um universo linguístico. “É uma catástrofe. Perdemos algo que não vamos recuperar”, afirmou o autor português, que teve um dos seus livros, “Vamos comprar um poeta”, no top 15 de obras mais vendidas durante o evento.

A expansão ou a extinção de um idioma no mundo tem relação direta com o prestígio do país de onde é falado. Afonso exemplificou com o número de Prémio Nobel que Portugal possui.

Geni também apresentou parte da sua pesquisa, a discussão que faz sobre o termo monogamia, como na concepção da igreja e a maneira como se entende na atualidade. ■

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