
O inverno traz consigo temperaturas mais baixas, maior humidade e mudanças bruscas no clima, fatores que podem agravar os sintomas da Fibromialgia e de outras síndromes de sensibilidade central. Para muitos doentes, esta época do ano intensifica as dores musculares, a fadiga e a rigidez articular, tornando essencial uma atenção redobrada aos cuidados diários e o acompanhamento médico adequado.
Para compreender melhor os desafios que os doentes enfrentam no inverno e quais as melhores estratégias para minimizar o impacto desta estação na qualidade de vida dos doentes, a nossa reportagem conversou com o Prof. Doutor José Luis Arranz Gil, especialista na área, diretor da Unidade de Fibromialgia e de Síndrome de Sensibilidade e Dor Crónica, pioneira em Portugal, na Mutualista Covilhanense, e presidente da Academia Portuguesa de Fibromialgia, Síndrome de Sensibilidade Central e Dor Crónica, sediada na Covilhã, instituição que se dedica à investigação e apoio a estes doentes.
Nesta entrevista, abordamos os cuidados essenciais a ter no inverno, a importância do contacto regular com o médico e a influência das baixas temperaturas nos doentes com Fibromialgia nesta altura do ano.
Que cuidados as pessoas devem ter durante o inverno em relação aos sintomas da Fibromialgia?
O inverno é um período em que o clima costuma ser baixo e o frio está presente, as pessoas com Fibromialgia são muito sensíveis ao que chamamos de stress térmico, ou seja, à variação, à mudança de temperatura e, principalmente, ao frio, pois foi demonstrado e comprovado em pacientes que a maioria dos pacientes com frio piora a dor e, portanto, todos os sintomas que a acompanham, mas principalmente a dor.
Quais os sintomas mais preocupantes?
Aquelas que afetam principalmente as esferas respiratória e cardiovascular, pois as variações térmicas alteram todos os sistemas orgânicos através do sistema nervoso autónomo, mas devemos logicamente dar atenção prioritária àquelas que são mais importantes para a preservação da vida e da saúde.
Como os pacientes podem aliviar os sintomas e a dor causados pela Fibromialgia?
Seguindo os conselhos e orientações terapêuticas indicadas pelos médicos que os tratam.
Que avanços a ciência demonstrou recentemente para ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem de Fibromialgia?
A medicina avança a cada dia à medida que as pesquisas médico-biológicas continuam a abrir caminhos para melhorar a saúde das pessoas e, cada vez mais, pesquisas estão a ser feitas sobre a Fibromialgia, e recentemente temos visto um aumento nas pesquisas em terapias não farmacológicas e no estudo de terapias psicossomáticas para melhora e compreensão da doença.
Que técnicas utiliza para ajudar os pacientes que sofrem com Fibromialgia?
Na nossa Unidade de Fibromialgia, Síndrome de Sensibilidade Central e Dor Crónica, na Covilhã, damos, acima de tudo, importância ao estudo e individualização das terapias que cada paciente necessita, porque, como diz o aforismo de Hipócrates: “não há doenças, mas, sim, pessoas doentes”. Mas uma parte importante do que sempre utilizamos é a Neuroestimulação Magnética Transcraniana de baixo campo que tanto nos está a dar alegria na melhoria dos pacientes.
Pacientes com Fibromialgia tendem a ter mais complicações durante o inverno ou durante o verão?
Os quatro sintomas cardinais da Fibromialgia (dor, fadiga crónica, insónia, distúrbios de memória) há sempre um quinto sintoma cardinal que está presente em todos os pacientes: Termorregulação Disfuncional, o que significa que não conseguimos atingir a termorregulação corporal adequada. Cerca de 90% sentem sensação de frio interno e apresentam sintomas. E 10% apresentam sensação interna de calor e apresentam sintomas, logicamente, quando está quente.
Por que as pessoas com Fibromialgia têm uma sensação interna de frio e outras de calor?
Por pertencermos à espécie animal, o ser humano é homeotérmico, ou seja, necessitamos manter a nossa temperatura corporal em equilíbrio e dentro de limites muito precisos, em constante regulação com o meio externo. Para manter essa homeotermia existe um regulador cerebral que é o hipotálamo e este, através do sistema nervoso vegetativo, que produz vasoconstrição ou vasodilatação periférica, mantém condições térmicas internas estáveis. Todas as pessoas com Fibromialgia e fadiga crónica apresentam como mecanismo fisiopatológico da sua doença uma disautonomia, ou seja, um desequilíbrio ou uma desadaptação do seu sistema nervoso vegetativo. O prof. Martinez-Lavin, que estudou e pesquisou a fundo o assunto, afirma que existe um estado de simpaticotonia permanente com Hipo reatividade vagal na Fibromialgia, portanto, isto quer dizer que existe uma vasoconstrição corporal, principalmente dos vasos sanguíneos periféricos (acros) que não pode ser regulada porque o sistema “vagal” não é muito ativo, então, essa vasoconstrição é o que produz a sensação de frio interno que a maioria apresenta e, por isso, pioram com o frio. Exceto, logicamente, aqueles 10% que apresentam o mecanismo oposto. ■