Comunidade açoriana cria “Drive Thru” para recolha de brinquedos no Rio Grande do Sul

O facto de a própria Casa dos Açores ter sofrido alguns prejuízos não desmotivou a equipa

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Nos últimos dias foram entregues, aproximadamente, 300 brinquedos em abrigos espalhados por Gravataí e também na cidade de Canoas. No campo da alimentação, foram distribuídos cerca de mil pequenos-almoços para entrega durante todos esses dias nos abrigos
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A Casa dos Açores do Rio Grande do Sul, no Brasil, está a liderar um projeto humanitário que visa arrecadar brinquedos e livros infantis que estão a ser doados às crianças distribuídas por vários abrigos da região. Chama-se “Drive Thru do Brinquedo Solidário” e tem como objetivo possibilitar que os “mais jovens” envolvam-se com atividades lúdicas num período de caos após as fortes chuvas que atingiram o estado gaúcho nas últimas semanas. Uma iniciativa que segue os passos solidários de outro projeto da entidade, que foi a entrega de pequenos-almoços, promovido pelo Rancho Folclórico da Casa, que está localizada no município de Gravataí, a cerca de 20km da capital Porto Alegre.

“Gravataí foi atingida, tem população desabrigada, mas com uma menor proporção comparado a outros municípios. Diante de toda essa catástrofe, a Casa dos Açores, através da sua diretoria e do seu Rancho Folclórico, não poderia deixar passar tudo isso sem se solidarizar, tendo em vista que, como nós não fomos diretamente atingidos, temos de criar iniciativas para amparar essas pessoas que estão aqui, obrigadas, especialmente na nossa cidade. Então, por aproximadamente 20 dias, fizemos pequenos-almoços para alguns abrigos da nossa cidade. Desde às 5h30 da manhã, já começava a movimentação de preparo desses alimentos, levávamos sandes, pão com queijo e fiambre, manteiga, fruta, café com leite, e, em algumas ocasiões, sumos e bolos. Todos os dias, pela manhã, encontrávamo-nos, preparávamos o café e saíamos para a distribuição em abrigos fixos. As pessoas já nos esperavam para a entrega dos alimentos, para então distribuir aos abrigados dessa localidade”, explicou Viviane Peixoto Hunter, presidente da Casa dos Açores do Rio Grande do Sul, que conta com aproximadamente 150 associados e 21 anos de existência.

Viviane, que é natural de Cachoeira do Sul, no estado gaúcho, e descendente de açorianos da sexta geração, vindos da Ilha do Faial, conta que o município de Gravataí está situado numa região “privilegiada no que toca à logística, tendo se tornado numa espécie de “Gravataí Solidária”, pois muitas das doações que chegam de outros estados do Brasil e de fora do país estão a chegar através de Gravataí, que tem acolhido as doações e redistribuído aos municípios mais gravemente atingidos”.

O facto de a própria Casa dos Açores ter sofrido alguns prejuízos, como infiltrações, deslocamento de telhas e muitas goteiras no prédio, não desmotivou a equipa.

“Em meio a todo esse processo, criamos uma campanha nova, uma espécie de “Drive Thru do Brinquedo Solidário”. Ficamos no final de semana na Casa dos Açores, com a casa aberta e de plantão, a recolher as doações de brinquedos, porque muitas dessas famílias são compostas por muitos filhos, há muitas crianças, então a gente pensou em levar minimamente alguma atividade lúdica para essas crianças, para se envolverem nesses abrigos, para tornar um pouco mais leve toda essa situação, se é que é possível. (…) As doações podem ser entregues sem sair do carro”, disse esta responsável.

Nos últimos dias foram entregues, aproximadamente, 300 brinquedos em abrigos espalhados por Gravataí e também na cidade de Canoas. No campo da alimentação, foram distribuídos cerca de mil pequenos-alomoços para entrega durante todos esses dias nos abrigos.

“Então, a Casa dos Açores tem sim se movimentado”, destacou Viviane, que contou que “algumas das pessoas que estavam envolvidas nessa frente de preparo dos alimentos precisaram retornar aos seus trabalhos”.

“Nós ficamos praticamente 20 dias sem ninguém poder trabalhar. Tudo estava parado aqui no Rio Grande do Sul. Um estado de calamidade pública mesmo. Acreditamos que vem aí uma recessão económica muito cruel. Vai ser necessário um longo período de reconstrução, há muitas estradas bloqueadas, com queda de pontes e viadutos, barragens, enfim, uma destruição total e inimaginável”, afirmou a presidente da entidade.

“municípios com forte presença e identidade açoriana”

O objetivo agora passa também por comprar materiais de higiene pessoal e de limpeza, pois será necessário limpar as casas alagadas para as pessoas poderem voltar aos seus lares, isso no caso das casas que resistiram à força das águas.

“Pensamos também em fazer kits de material escolar para as crianças. Temos muitas ideias, não vamos parar por aqui. Estamos solidários com as famílias que perderam as suas casas, os seus lares, as suas histórias, as suas memórias”, reforçou Viviane, que não descarta a hipótese de ter açorianos e açordescendentes afetados pela tragédia.

“Acredita-se que muitos açorianos ou descendentes de açorianos são também vítimas de toda essa tragédia, já que o Estado do Rio Grande do Sul é formado por muitos municípios de raiz açoriana, então, muitos descendentes encontram-se nas cidades atingidas. Temos aqui açorianos descendentes de quinta, sexta, sétima geração, tendo em vista que os açorianos chegaram aqui há 272 anos. Ou seja, acreditamos que muitos descendentes de açorianos foram atingidos pelas inundações, pois há municípios com forte presença e identidade açoriana”, comentou.

“Estamos todos assustados”

Apesar de todas as dificuldades, Viviane garante que “o nosso voluntariado continuará através de ações pontuais, com o intuito de contribuir, seja na aquisição de bens, seja no trabalho voluntário nas limpezas dos prédios, casas e afins”. Em virtude desse cenário, muitas das atividades culturais foram canceladas, com previsão de retorno no mês de junho.

“Estamos todos assustados aqui no Rio Grande do Sul, apreensivos com toda essa tragédia climática. É uma situação jamais vivenciada no nosso estado”, narrou Viviane, que disse ainda haver muitos municípios submersos e que as águas não baixam, é um processo muito lento, o que faz com que as pessoas não consigam voltar para as suas casas, resultando em “muita gente desabrigada”, finalizou Viviane Peixoto Hunter.

Agência Incomparáveis, com Diário da Lagoa – Açores ■

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