“Ser português é uma coisa única, é uma coisa que em si mesma nos dá alegria, nos dá alento, nos dá força, nos dá motivação para levarmos os nossos projetos para a frente, projetos individuais, coletivos e os nossos projetos de governação”, disse o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, durante a sua primeira visita oficial ao Brasil. Nas instalações do Palácio São Clemente, no Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, este chefe de governo participou num encontro, no último dia 19/11, com a comunidade portuguesa residente na cidade maravilhosa. Uma iniciativa que reuniu diversos líderes associativos, empresários, artistas, políticos, entre outros nomes de vulto ligados a Portugal e ao universo luso-brasileiro e luso-descendente, bem como o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel; o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos; o deputado luso-brasileiro eleito pelo círculo de Fora da Europa, Flávio Martins, que é também presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP); e Gabriela de Albergaria, cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro.
“Eu sei que todos carregam nos vossos corações aquele sentimento que não é que é possível de ser descrito com exatidão (…) que é ser português”, enalteceu Montenegro, num discurso emocionado, direcionado à comunidade lusa local.
Luís Montenegro está no Brasil para uma agenda que envolve o acompanhamento das reuniões do G20, que decorreu entre os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, uma oportunidade disponibilizada a Portugal, na qualidade de observador, a convite da Presidência brasileira.
Durante o encontro no Palácio São Clemente, o primeiro-ministro defendeu ainda que Portugal e Brasil têm “uma oportunidade gigante” de aprofundar relações, no domínio da língua, do ensino ou da economia devido ao elevado número de emigrantes portugueses no Brasil e vice-versa.
“Nesta ocasião em que temos tantos brasileiros em Portugal e tantos portugueses no Brasil, temos como pano de fundo uma oportunidade que é uma oportunidade gigante: uma oportunidade de aproveitarmos a nossa língua, que é uma língua comum, de a preservarmos, de a ensinarmos, de podermos trocar experiências, de podermos conviver uns com os outros”, afirmou Montenegro, que pediu aos emigrantes presentes que “continuam a acreditar em Portugal” e ajudem a abrir portas aos empresários lusos num mercado que reconheceu nem sempre ser fácil.
“Associações, empresas, famílias, universidades, estudantes, artistas, homens da cultura, das várias expressões, nós temos de facto uma relação que não pode ser desaproveitada, nós temos neste imenso Brasil um mar de oportunidades, e o Brasil também tem, no grande Portugal e na porta de entrada que Portugal é para a Europa, as oportunidades que podem fazer crescer muita da economia de cada um dos lados”, comentou.
“Eu estou aqui há três dias e tenho sido abordado na rua por muita gente, tem sido para mim uma alegria ver turistas portugueses aqui, empresários a fazer negócios, representantes de instituições, até estudantes”, frisou este chefe de governo português, que aproveitou a oportunidade para fazer uma revelação pessoal, dizendo que o seu filho mais novo deverá também estudar em breve no Brasil, ao abrigo do programa Erasmus.
Atualização consular e visita cultural
Sobre a rede consular, o primeiro-ministro assegurou que o Governo tem vindo a “tentar modernizar a rede consular, dar-lhe mais equipamentos, dar-lhe mais meios humanos”, bem como apoiar o movimento associativo, que considerou “fundamental para estimular o ensino do português”. Durante o encontro, funcionários consulares no Rio, que lutam há anos pela valorização dos seus postos de trabalho, conversaram com as autoridades portuguesas presentes sobre a taxa cambial, desatualizada, utilizada para efeitos de pagamento dos seus ordenados. Tema que mereceu atenção, por exemplo, do ministro Paulo Rangel, que teria prometido diligências no sentido de evoluir com as conversações entre o governo português, os funcionários e o Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (STCDE), que representa a categoria.
O programa oficial no Rio de Janeiro incluiu uma visita ao Real Gabinete Português de Leitura, localizado na zona central da cidade, onde Montenegro destacou o trabalho realizado pelo presidente desta instituição, Francisco Gomes da Costa.
“É muito raro e valioso encontrar tantos traços da nossa identidade e tantas referências da nossa caminhada e presença no mundo. Uma nação inovadora, corajosa e talentosa. Muitos parabéns, caro Francisco, em homenagem a todos que preservam aqui o ser português”, agradeceu o primeiro-ministro, que foi agraciado pelo Real Gabinete com uma medalha comemorativa dos 500 anos do nascimento de Camões e que retribuiu com as obras completas do ensaísta Eduardo Lourenço, uma edição da Fundação Gulbenkian.
Anúncio durante o G20
O governo português anunciou que vai contribuir com 300 mil dólares anuais para a nova Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, durante a cimeira do G20, no Rio de Janeiro.
“O nosso compromisso é firme, assim como será o nosso investimento. Portugal irá contribuir com cerca de 10% do custo de funcionamento do mecanismo de Apoio da Aliança, 300.000 dólares (cerca de 284 mil euros), pelo menos até 2030”, afirmou Luís Montenegro.
No âmbito deste evento internacional, e durante a primeira sessão de trabalho da reunião de chefes de Estado e de Governo do G20, Montenegro saudou o presidente Lula por trazer para o centro da discussão “temas absolutamente essenciais como a erradicação da pobreza e da fome”.
“A decisão histórica de criar uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza irá imprimir uma nova dinâmica política e deverá mobilizar-nos a todos para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável 1 e 2 (das Nações Unidas) até 2030”, afirmou.
Organização de cimeira e agenda em São Paulo
Ainda no Brasil, Montenegro valorizou o trabalho da Embaixada de Portugal no país, liderada por Faro Ramos, e anunciou a realização de uma cimeira luso-brasileira em fevereiro do próximo ano, em solo brasileiro, e uma nova visita ao país sul-americano, em data a acertar. A última cimeira luso-brasileira realizou-se em Lisboa em abril de 2023.
Montenegro referiu que a interação entre Portugal e Brasil “está mais viva do que nunca”, e que para, além das ligações culturais, históricas e das parcerias económicas, a ligação entre os dois países tem uma dimensão humana “verdadeiramente notável”.
No dia 20/11, quarta-feira, pela manhã, o primeiro-ministro e o ministro Paulo Rangel seguem para São Paulo, onde terão um dia dedicado à comunidade lusa e à cultura. Está previsto também um almoço com as autoridades locais, incluindo o Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo. ■