Balança comercial de Portugal com o Brasil melhora 1,4% em 2024, mas é negativa em 2,5 mil milhões

Portugueses no Brasil esperam melhorias nos consulados com visita de Marcelo e Montenegro

0
32
14.ª Cimeira Luso-Brasileira será em Brasília
- Publicidade -

O saldo da balança comercial de Portugal com o Brasil melhorou 1,4% no ano passado, mas é negativo em 2,5 mil milhões de euros para Portugal, essencialmente devido às grandes importações de combustíveis minerais.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) consultados pela Lusa, o saldo da balança comercial tem sido sempre negativo para Portugal nos últimos cinco anos, crescendo de 874 milhões de euros, em 2020, para 2,589 mil milhões de euros no ano passado.

Assim, desde 2020, o saldo negativo das trocas comerciais entre Portugal e o Brasil quase triplicou, tendo registado um agravamento de 196,2%, muito influenciado pelas importações de combustíveis, que valem mais de 2,5 mil milhões de euros, de um total de compras ao Brasil que rondou, no ano passado, os 3,7 mil milhões de euros.

Em sentido inverso, Portugal exporta principalmente produtos vegetais, que no ano passado valeram quase 445 milhões de euros, muito acima da segunda maior exportação, as partes de aeronaves e aparelhos espaciais, que valeram 175,5 milhões de euros.

No total, a balança comercial de Portugal com o Brasil evoluiu de um saldo negativo de 874 milhões, em 2020, para 1,8 mil milhões de euros em 2021, e teve um grande agravamento em 2022, quando a diferença entre as exportações e as importações foi negativa para Portugal em 3,6 mil milhões de euros, melhorando depois para 2,6 mil milhões no ano seguinte e descendo ligeiramente para 2,5 mil milhões, no ano passado.

Olhando para as remessas dos emigrantes, o saldo entre as verbas que entram e saem de Portugal também é negativo, já que os emigrantes brasileiros em Portugal enviaram, em 2023, quase 390 milhões de euros para o Brasil, representando, de longe, a maior comunidade emissora a trabalhar em Portugal.

Pelo contrário, os portugueses a trabalhar no Brasil enviaram apenas cerca de 26 milhões de euros para Portugal em 2023, o último ano para o qual há dados totais anuais.

De janeiro a outubro de 2024, os brasileiros enviaram 304,7 milhões de euros, de um total de remessas de 613 milhões de euros, representando, portanto, quase metade do total das verbas enviadas pelos estrangeiros a trabalhar em Portugal.

Portugal e Brasil realizam na quarta-feira a 14.ª cimeira luso-brasileira, em Brasília, que conta com a presença do Presidente e do primeiro-ministro portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro, respetivamente, e do chefe de Estado brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Portugueses esperam melhorias nos consulados

Representantes da comunidade portuguesa esperam que a participação do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal na 14.ª Cimeira Luso-Brasileira reforce parcerias económicas com o Brasil e que os governantes promovam melhorias nos Consulados do país.

Em declarações à agência Lusa, Teresa Morgado, membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, considerou que as visitas de Marcelo Rebelo de Sousa e de Luís Montenegro ao Brasil serão uma boa oportunidade para a comunidade relatar os problemas que enfrenta.

“Acho muito importante que o Governo português, que o nosso primeiro-ministro e o nosso Presidente venham ao Brasil (…) Eles têm que ver as dificuldades de todos os portugueses que aqui estão, da comunidade portuguesa, que são muito grandes”, disse.

“A dificuldade nos nossos Consulados é muito grande, [assim como] a dificuldade em ajudar as pessoas idosas”, acrescentou Teresa Morgado.

A presidente da Câmara do Comércio de Portugal de São Paulo, Karine Vilela, considerou que os acordos a serem assinados durante a cimeira, que se realiza na quarta-feira na capital brasileira, Brasília, podem impulsionar a economia e as trocas bilaterais para novas áreas.

A responsável citou como exemplo entendimentos na área da educação sobre a validação de diplomas universitários, que poderão facilitar a emigração qualificada, e a troca de arquivos entre as bibliotecas nacionais dos dois países, que ajudariam a impulsionar investigações científicas.

“Na Câmara Portuguesa de São Paulo conseguimos testemunhar várias áreas [da parceria bilateral] que estão crescendo muito, como a transição energética, que é um dos acordos que vão ser discutidos nesta cimeira”, acrescentou.

Por seu lado, o presidente da casa de Cultura da Ilha da Madeira de São Paulo, José Manoel Bettencourt, considerou que o maior problema que os portugueses enfrentam hoje é mesmo agendar atendimentos nos Consulados portugueses no Brasil, que estão sobrecarregados.

“Aqui o que nós mais temos dificuldade é agendar [para fazer ou atualizar] documentação (…) O Governo português tem que dar um jeito de melhorar esse atendimento”, pontuou.

O empresário José de Sá, que constituiu família no Brasil, mas mora em Portugal, considerou que um dos maiores desafios que os portugueses no Brasil enfrentam é a burocracia.

“O português no Brasil precisa de apoio na parte burocrática. Especialmente para os filhos e netos de portugueses. Sou português, casado com uma brasileira, os meus filhos são brasileiros, tenho netos brasileiros e tenho um bisneto brasileiro. E, no entanto, eu ainda tenho dificuldades”, contou.

“Estou residindo agora em Portugal, há dois anos, e estou ainda com dificuldade para que a minha mulher tenha nacionalidade portuguesa. Somos casados há 69 anos”, completou José de Sá.

Já António de Almeida e Silva, presidente do Conselho da Casa de Portugal de São Paulo, defendeu que as autoridades portuguesas deveriam também considerar os desafios económicos das organizações culturais que mantêm as tradições do país vivas no exterior.

“Portugal, sendo um país de comunidades como é, tinha que, digamos, acarinhar mais as comunidades ajudando as nossas associações. Algumas precisam de ajuda do Governo português para sobreviver, para cumprir o seu papel primordial. E, às vezes, falta isso. Então, diria que, em resumo, Portugal deveria acarinhar mais as suas associações espalhadas pelo mundo”, concluiu.

A 14.ª cimeira luso-brasileira seguirá o modelo da edição anterior, realizada em Lisboa, em 2023, e será precedida, na terça-feira, por uma visita de Estado do Presidente português, incluindo uma passagem pela cidade do Recife, onde receberá um título ‘honoris causa’.

No âmbito da cimeira, haverá um encontro entre o primeiro-ministro português e o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, seguido de reuniões e da assinatura de vários acordos bilaterais.

Segundo dados do Observatório da Emigração, residem no Brasil cerca de 145.000 portugueses, mas este número pode ser superior porque a inscrição consular não é obrigatória. ■

Agência Incomparáveis, com Lusa

- Publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui