“A minha origem portuguesa é o principal motivador da minha relação com essa comunidade de que faço parte”. É desta forma que Marcela de Lacerda Trópia, vereadora na Câmara Municipal de Belo Horizonte, no estado brasileiro de Minas Gerais, explica o seu envolvimento com as políticas municipais que visam atrair, sobretudo, investimentos e criar oportunidades entre Brasil e Portugal.
Marcela é luso-brasileira, tem 29 anos de idade, acumula funções como secretária-geral da Câmara Municipal local e é especialista em políticas públicas, formada pela Fundação João Pinheiro. É pré-candidata à reeleição no pleito eleitoral municipal que decorrerá no Brasil no próximo dia 6 de outubro.
“Sou cidadã de Portugal, cidadania que herdei dos meus avós maternos, imigrantes portugueses que vieram para o Brasil. O meu avô nasceu na Póvoa do Concelho, na região de Trás-os-Montes, e a minha avó numa aldeia rural da região Norte do país chamada Moreira de Baixo. Ainda jovens, eles se mudaram em busca de trabalho para Figueira da Foz, onde se conheceram. Movidos pela coragem e pela esperança de um futuro melhor, decidiram vir para o Brasil. Deixaram para trás a terra natal, atravessando o oceano Atlântico em busca de novas oportunidades. No Brasil, constituíram uma família, um lar. Agarraram a oportunidade de construir um futuro próspero para si e para as suas futuras gerações. Mais do que as suas realizações, eles nos deixaram um legado de valores: a importância da família, o valor do trabalho honesto, a perseverança diante das adversidades e o respeito pelas raízes culturais que trouxeram consigo”, explicou Marcela Trópia, que está na política brasileira “desde muito jovem”, tendo sido eleita vereadora em Belo Horizonte em 2020.
“A minha primeira experiência foi como presidente do Grêmio Estudantil quando estava no Ensino Médio. Na mesma época, participei do Parlamento Jovem, iniciativa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para estudantes com interesse no poder legislativo. Foi nessa época que me apaixonei por política e decidi me especializar como gestora pública na Fundação João Pinheiro, o melhor curso da área no país. Disputei a eleição de vereadora em 2016, e, apesar de não ter vencido, tive um resultado muito bom que me fez ser reconhecida no meio político de Belo Horizonte. Segui me capacitando e realizei uma pós-graduação em Liderança e Gestão Pública pelo Centro de Liderança Pública e cursei um módulo na Universidade de Oxford, onde aprimorei as minhas habilidades em gestão e liderança com uma perspetiva internacional. Em 2020, disputei novamente a vaga de vereadora em Belo Horizonte e fui eleita com 10.741 votos, a sexta maior votação da cidade. Hoje, sou pré-candidata à reeleição”, comentou.
Desde que iniciou funções como vereadora em Belo Horizonte, em 2021, Marcela presidiu à Comissão de Educação por três anos, “liderou esforços para enfrentar os desafios da educação na cidade e conquistou a reabertura segura das escolas durante a pandemia, além de ter liderado a Comissão de Desburocratização do Setor Económico”, com o objetivo de “simplificar o ambiente de negócios da cidade”.
Atualmente, é secretária-geral da Câmara Municipal de Belo Horizonte e desempenha um “papel fundamental na modernização e transparência da Prefeitura”.
“Coordenei a criação do site “BH pra Você”, plataforma que permite aos cidadãos fiscalizar o uso dos recursos públicos e a execução orçamentária da prefeitura. Como último grande projeto do mandato, presidi à Comissão de Modernização do Código de Posturas, para simplificar e desburocratizar essa lei que define regras para a convivência urbana”, apontou Marcela.
Marcela Trópia considera a comunidade portuguesa em Belo Horizonte “vibrante”, além de “contribuir com riqueza cultural e económica” no desenvolvimento da cidade.
“A sinergia entre cultura e economia faz dessa comunidade um verdadeiro pilar para o desenvolvimento de Belo Horizonte, e por isso, estou empolgada para apoiar a comunidade com muito trabalho”, completou Marcela, que acredita que, atualmente, há “diversas sinergias entre Belo Horizonte, Minas Gerais e Portugal, que incluem cooperações académicas, culturais e empresariais, que vão ser fortalecidas com a Lei Cidades-Irmãs, fruto de um projeto que criei a partir da provocação dos membros da comunidade portuguesa, o que facilita o intercâmbio de conhecimentos e boas práticas entre Belo Horizonte e Lisboa”.
Marcela avalia que a conexão entre a comunidade belo-horizontina e os portugueses residentes na cidade é “muito positiva e crescente”, já que os “portugueses que vivem em Belo Horizonte têm se integrado bem à nossa comunidade, contribuindo significativamente em diversas áreas, desde a gastronomia até os negócios”. Segundo esta vereadora, Belo Horizonte conta com portugueses a atuarem principalmente nas áreas da educação, negócios e gastronomia, “onde têm deixado uma marca significativa”.
“Belo Horizonte no mapa da inovação e tecnologia”
“Existem diversas conexões possíveis, especialmente em setores como educação, tecnologia, inovação, gastronomia e turismo. O intercâmbio e o desenvolvimento de parcerias empresariais, nos setores de educação e gastronomia, especialmente o café, são áreas muito promissoras para ambas as partes”, afirmou. Toda esta dinâmica entre Brasil e Portugal desde Belo Horizonte é também alimentada pelo contacto e “boas relações” com estruturas de raiz portuguesa e luso-brasileira na cidade, prova disso é a interação que Marcela mantém com a Câmara Portuguesa de Minas Gerais e com o Centro das Comunidades Luso-Brasileiras, uma relação que “tem se fortalecido cada vez mais”.
Num campo mais amplo, e tendo em vista que Portugal e a Europa, no geral, têm apostado em novas tecnologias, provenientes, sobretudo, dos esforços de empresários e empreendedores, incluindo o papel das startups, Marcela auxiliou no desenvolvimento do “Marco Municipal das Startups”, promovendo oportunidades entre o velho continente e a América do Sul.
“O “Marco Municipal das Startups” é uma das principais iniciativas no nosso Pacote de Inovação para Belo Horizonte, pois traz segurança jurídica e incentivos para promover a geração e a aceleração de startups, ajudando assim a permitir um ambiente mais dinâmico e competitivo para o ecossistema de inovação de Belo Horizonte. Também faz parte do Pacote de Inovação o Acordo de Parcerias para Pesquisa, que integra organizações de pesquisa e setor privado. O outro projeto é o Bónus Tecnológico e Bolsa de Estímulo à Inovação, que financia projetos de inovação e formação de profissionais. O objetivo destas iniciativas é colocar Belo Horizonte no mapa da inovação e tecnologia, atraindo investimentos e talentos. As relações com Portugal são mais do que bem-vindas!”, defendeu Marcela.
Homenagem às comunidades luso-brasileiras
Em julho deste ano, Marcela promoveu uma reunião especial em homenagem às comunidades luso-brasileiras na Câmara Municipal de Belo Horizonte, com o objetivo de “celebrar e fortalecer os laços entre as comunidades luso-brasileiras e a cidade de Belo Horizonte e foi fruto de um longo trabalho junto à comunidade portuguesa, na criação do Projeto de Lei das Cidades Irmãs e de outras iniciativas para a cidade”.
“Fui motivada a organizar a reunião pela rica herança cultural que os imigrantes portugueses, entre eles os meus avós, trouxeram para a nossa cidade e pela importância de valorizar e integrar ainda mais essas relações”, ressaltou esta vereadora, que revelou que, como resultado, o encontro “proporcionou um maior reconhecimento da comunidade luso-brasileira e na proposta de novas parcerias culturais e económicas”. No evento, estiveram presentes nomes como Gabriel Azevedo, presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte; Antônio Baltazar, presidente do Conselho Consultivo da Câmara Portuguesa de Minas Gerais; Cláudio Motta, conselheiro da Câmara Portuguesa de Minas Gerais; Leonardo Costa Andrade Mendes, presidente do Centro das Comunidades Luso-Brasileiras; Maria Inês Vasconcelos, vice-presidente da Câmara Portuguesa de Minas Gerais; Jorge Bastos; diretor do Comité de Educação e Inovação Social da Câmara Portuguesa de Minas Gerais; o vereador Ewerton José Duarte Horta Júnior, presidente da Câmara Municipal de Barbacena; e Miguel Jerônimo, presidente da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil – Minas Gerais; entre outros nomes.
“Sem dúvidas, a solenidade reforçou os laços dentro da própria comunidade. Foi a primeira vez que muitos estiveram dentro da Câmara Municipal, reforçando a importância da participação da sociedade na política”, enalteceu Marcela.
“A Reunião Especial em homenagem às comunidades Luso-brasileiras foi um grande exemplo de integração cultural e o apoio a negócios luso-brasileiros. Sem contar com o projeto de lei Cidades-Irmãs, que está em fase avançada de tramitação e que vou trabalhar incansavelmente para aprovar”, frisou.
Futuro político
Em declarações à nossa reportagem, Marcela, que é candidata à reeleição, disse esperar “continuar o trabalho que venho realizando nos últimos quatro anos, usando a experiência que adquiri para focar em resultados ainda maiores para Belo Horizonte”.
“Sinto que tenho uma boa influência ao apontar problemas que precisam ser resolvidos, como quando descobri que a falta de lixeiras públicas na cidade era porque estávamos sem contrato para o fornecimento desse tipo de serviço, gerando a criação de um novo contrato. Cumpri praticamente todas as propostas de campanha em 2020 e é com essa motivação que sigo como pré-candidata à reeleição”, recordou.
Esta vereadora argumentou que uma das suas principais conquistas neste mandato atual foi o Mutirão Oftalmológico, que garante exames de vista e óculos gratuitos para alunos do ensino fundamental das escolas públicas de Belo Horizonte, com o intuito de “garantir que crianças com problemas de visão tenham acesso a atendimento médico, aos óculos e a outros procedimentos de saúde”. Marcela reforça que “todas as regionais da cidade serão atendidas até o fim deste ano, combatendo esse que é um dos principais fatores que podem causar o atraso na aprendizagem e o abandono escolar”.
“É desafiador defender ideias inovadoras, diante de uma gestão que é avessa à inovação e que hoje em dia não tem feito nem mesmo os serviços básicos com qualidade. Na educação, por exemplo, gostaria de estar falando sobre trazer edtechs (startups de inovação na educação) para tornar a sala de aula mais atrativa para os jovens, mas ainda precisamos discutir o básico, que é a garantia de vagas no ensino integral para os alunos. A lentidão da Prefeitura infelizmente é um desafio”, criticou Marcela Trópia.
Recorde-se que Marcela participou, em 2022, no Programa de Competitividade Global da Universidade de Georgetown. Foi ainda presidente da Comissão de Educação na Câmara Municipal de Belo Horizonte por três anos. É conhecida por defender pautas de educação, transparência e liberdade económica. ■