Afonso Borges, curador do Fliparacatu, lançou “Tardes Brancas” ao lado de Bianca Santana e Carlos Starling

Obra será apresentada também em Lisboa nos próximos dias

0
185
Afonso Borges, curador do Fliparactu e escritor
- Publicidade -

Acostumado a fazer entrevistas, Afonso Borges, idealizador e curador do Festival Literário Internacional de Paracatu, iniciou sua palestra ao lado de Bianca Santana e Carlos Starling dizendo que aquele era um momento em que os papéis se inverteriam. Fundador do Sempre Um Papo, programa de incentivo à leitura realizado em esquema de entrevistas, Borges lança seu livro “Tardes Brancas”, publicado pela Editora Autêntica, no 2.º Fliparacatu, que terminou no dia 1 de setembro. Naquela ocasião, portanto, Borges responderia perguntas feitas pelos escritores com quem dividia a mesa de debates.

“Tardes Brancas” reúne 26 contos e cinco poemas e é uma reedição de seu livro “Olhos de carvão”, publicado em 2017 e que marcou sua estreia na ficção para adultos. Agora, os textos ganham novos tratamentos – “lapidados e relapidados”, como conta o autor a Humberto Werneck, que assina o prefácio. Os contos de Afonso Borges revelam um equilíbrio entre o real e o poético, representando a complexidade da vida cotidiana com referências a personagens literários, como Bartolomeu Campos de Queirós; e locais clássicos de Belo Horizonte, como o já extinto Pelicano, que era um ponto de encontro de intelectuais da capital mineira. As inspirações de Borges? Histórias que viveu quando jovem, quando começou a trabalhar como jornalista, e até relatos de sonhos difíceis e tenebrosos.

Dando continuidade, Afonso discorre que o interessante na escrita é que, apesar de haver uma tentativa de controlar o processo, a surpresa sempre espera o escritor ao se deparar com uma folha em branco ou o cursor do computador. “Escrever é um ato de encantamento, mistério e depuração, que só se compreende quando mergulhamos de verdade na escrita. Nesse mergulho, encontramos a nossa interpretação de mundo”. E ainda completou, dando uma dica para os muito estudantes que ocupavam o auditório da Casa Kinross: “busquem nas suas próprias experiências a matéria-prima para suas histórias. Nem sempre sabemos o que a escrita nos reserva, mas é aí que o milagre acontece. Na literatura, o inesperado é bem-vindo”.

Logo em seguida, a palavra foi cedida a Carlos Starling, médico infectologista e especialista em Medicina Preventiva e Social, que adentrou um pouco seu universo particular de escrita. Sua primeira publicação, “Guardanapos”, foi uma coletânea organizada por sua esposa, que reuniu escritos seus como presente. Durante a pandemia, ele escreveu “O Tempo Sem Tempo”, um livro de crônicas que, apesar de ser escrito nesse período, não se relaciona diretamente com a questão sanitária. Ainda fez um paralelo entre saúde e literatura, mencionando que, figurativamente, a literatura é uma forma de sobrevivência.

Falando sobre suas histórias pessoais que foram transformadas em palavras foi a vez de Bianca Santana compartilhar suas vivências. Ela confessou que, quando era menina, gostava muito de ler, mas raramente encontrava livros que refletissem sua realidade. Talvez por isso nunca tenha sonhado em ser escritora. Foi apenas no ensino médio, quando uma bibliotecária sugeriu que ela seguisse o jornalismo, que encontrou um caminho. Durante a faculdade, estudando o curso que lhe fora sugerido, descobriu o prazer de fazer perguntas e ouvir histórias para depois contá-las. Isso a levou a recontar suas próprias histórias na literatura, readaptando experiências de vida, como o momento em que se descobriu negra e a força de seu cabelo. Dirigindo-se às tantas garotas adolescentes presentes na plateia, a escritora compartilhou um pouco do que colocou em sua obra que conta, justamente, esse ponto apresentado. Daí nasceu a obra “Quando me descobri negra”.

Bianca foi além, mencionando a importância de possibilidades serem criadas para que todos possam ser inteiros, viver sem medo e sonhar com o futuro. É um momento de construir, de reimaginar o mundo. Também refletiu sobre o contexto político atual, onde a verdade parece ter perdido seu valor e a mentira é usada para manipular afetos. Em contraste, aqueles que realmente amam e se importam, muitas vezes, têm dificuldade em se conectar pelo coração, uma vez que tentam racionalizar tudo.

A partir desse momento, questões filosóficas foram levantadas, como “o que é o amor”, “de onde ele vem” e “como lidar com o que é invisível”. Dentre tantas indagações, hipóteses e devaneios, Afonso Borges encerrou sua fala celebrando os encontros literários que acontecem no Fliparacatu – por se tratarem de relações humanas, a inteligência artificial jamais poderão substituí-los.

Ao final, Bianca leu um trecho do livro de Afonso Borges, uma história que, segundo o autor, é inspirada em Lya Luft. ■

- Publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui