O deputado socialista Paulo Pisco, reeleito nas últimas eleições legislativas portuguesas, no dia 10 de março, pela emigração pelo círculo europeu, afirmou estar “orgulhoso” do resultado conquistado nas urnas, apesar de questionar o processo que levou à marcação de um novo pleito eleitoral por Marcelo Rebelo de Sousa.
“Orgulho-me da minha eleição para mais um mandato em circunstâncias tão difíceis, devido à inesperada dissolução da Assembleia da República ditada pelo presidente da República, devido a um processo na justiça que envolveu o primeiro-ministro, sem que as provas contra ele mostrassem consistência. Passados cinco meses, António Costa ainda nem sabe do que é acusado, o que é inaceitável. Mas uma maioria absoluta foi derrubada e hoje o governo é de direita e a extrema-direita subiu de uma forma assustadora”, comentou Pisco.
Segundo este responsável, deve-se, porém, “assinalar o aumento da participação eleitoral” da diáspora portuguesa, “tendo o número de votantes nos dois círculos das comunidades atingido o seu valor mais elevado de sempre, desde a implementação do recenseamento automático em 2017, por um Governo do PS”.
Essa participação mais ativa por parte da diáspora nas eleições passadas significa, de acordo com este deputado, “acima de tudo que, a cada eleição que passa, as comunidades demonstram a sua importância e que as instituições e a sociedade não podem ignorar as aspirações dos portugueses residentes no estrangeiro, porque o voto é uma forma de demonstrar a força da ligação que têm ao país, é uma forma de dizerem que querem que olhemos para as circunstâncias em que se encontram nos países onde estão e que querem que Portugal seja capaz de responder às suas expetativas”.
Ainda no âmbito da última campanha eleitoral, Paulo Pisco recorda experiências, como “o momento da apresentação dos quatro candidatos do PS em Paris pelo secretário Internacional do PS, Francisco André, além do encontro com jovens investigadores na Suíça, a visita à ilha de Jersey, os encontros com criadores em Berlim, os encontros num programa muito intenso nos Altos de França, a dimensão cultural no Luxemburgo e muitos outros momentos em vários países”.
“Ao longo de mês e meio de campanha estive em sete países, 25 cidades e na ilha de Jersey”, enumerou Pisco, que explica quais informações retirou fruto do contacto com as comunidades e que poderão auxiliar nas suas futuras ações.
“As campanhas eleitorais são sempre um momento importante de recolha de informação e de aprendizagem, são uma oportunidade única para nos confrontarmos com os problemas, necessidades e expetativas das comunidades. É também uma oportunidade para estabelecer os primeiros contactos, abordar novos temas e ir ao encontro das comunidades que são mais esquecidas. (…) Serão várias as medidas que pretendo colocar em forma de iniciativa legislativa. Basicamente, algumas das que constituíram as propostas que tínhamos no nosso programa eleitoral”, afirmou.
Experiente no campo político, sobretudo diante das comunidades portuguesas na Europa, Pisco revela que pretende trabalhar para concretizar ações no domínio de temas como “idade de reforma, jovens e mulheres, movimento associativo, várias questões associadas aos automóveis, ensino de português, etc.”.
“na Suíça, a desproporção é tão grande que é preciso ver o que aconteceu”
Este deputado comentou também o crescimento dos votos no partido Chega, inclusive pela emigração.
“Esse é um grande paradoxo, que um partido que é contra os imigrantes e tenha para eles propostas desumanas tenha tido tanto apoio dos portugueses que são imigrantes. É preciso analisar bem o que se passou e perceber se se trata apenas de um voto de protesto potenciado pela retórica manipuladora do Chega sobre corrupção e imigrantes ou se existem outros motivos atendíveis para os quais é preciso dar resposta”, destacou Pisco, que disse ser preciso, inclusive, analisar bem o que aconteceu na Suíça, pois “essa votação é anormal em comparação com o que aconteceu nos outros países”.
“Nas 160 mesas de contagem de votos nos dois primeiros dias relativas a todos os países, o PS ganhou na maioria, em 84 mesas, e o Chega ficou em segundo, ganhando em 54. Em todas houve um equilíbrio de forças entre o PS, AD e Chega. Mas, na Suíça, a desproporção é tão grande que é preciso ver o que aconteceu. Entre algumas das razões apontadas, fala-se da pressão fiscal que os portugueses sentem na Suíça, por causa da troca automática de informações em matéria fiscal, de contas bancárias e de património. Mas é preciso dizer, mais uma vez, que o Governo não tem nada a ver com isso, porque se trata de um acordo no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para combater a lavagem de dinheiro, os tráficos e a corrupção. O Governo não tem aí nenhuma responsabilidade. Mas a desproporção nos votos no Chega em relação aos outros partidos foi tão grande que há toda a legitimidade em querer saber o que realmente se passou, se houve ou não total lisura no processo”, defendeu o deputado reeleito.
Da sua atuação na Assembleia da República de Portugal, Paulo Pisco refere que os portugueses poderão esperar “dedicação total na defesa dos interesses dos nossos compatriotas residentes no estrangeiro”. ■