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Os recentes acidentes aéreos no Brasil e no mundo têm desencadeado um aumento expressivo de transtornos psicológicos como fobias, ansiedade e estresse pós-traumático.
A psicóloga e psicanalista Luciana Inocêncio alerta que a frequência dessas tragédias tem gerado um pânico generalizado, afetando tanto passageiros habituais quanto pessoas que nunca viajaram de avião.
“A natureza inesperada e catastrófica deste tipo de evento desencadeia um sem-número de reações emocionais. Seja o sujeito vítima ou não, ele pode desenvolver aerofobia. Para se ter ideia, se a angústia for muito intensa, a pessoa chega ao ponto de acreditar que estará no próximo acidente”, explicou a especialista em transtornos graves das psicoses.
Os dados são alarmantes. Apenas nos primeiros meses de 2025, o Brasil já registou 22 quedas de aeronaves, resultando em dez mortes, segundo o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer) da Força Aérea Brasileira. O mais recente acidente ocorreu em São Paulo, vitimando o dono da aeronave e o piloto. Nos Estados Unidos, 74 pessoas perderam a vida em dois acidentes neste ano.
Além do medo de voar, o bombardeamento mediático e a repetição de imagens impactantes na televisão e redes sociais agravam o quadro psicológico da população.
“O pouco espaço de tempo entre um desastre e outro mexe com a mente humana e pode desencadear o que chamamos de ‘ansiedade antecipatória’. Pessoas que precisam viajar passam a apresentar sintomas muito antes do embarque, como insônia, sudorese e crises de pânico. É uma agonia sem fim”, relatou Luciana.
A psicóloga explica ainda que, quando o medo atinge níveis extremos, pode levar ao isolamento social e frustração.
“A pessoa evita voar, recusa compromissos e até perde oportunidades de trabalho por não conseguir embarcar”, afirmou.
Sobreviventes e Luto
Para aqueles que vivenciam um acidente aéreo e sobrevivem, os impactos psicológicos são ainda mais profundos. Luciana destaca que muitos desenvolvem Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), caracterizado por flashbacks, Hiper vigilância e pesadelos recorrentes.
“Não podemos nos esquecer da ‘culpa do sobrevivente’, um sentimento de sofrimento intenso que ocorre, sobretudo, quando há perda de outras vidas. A situação se agrava ainda mais quando não há corpo para as últimas homenagens, dificultando o processo de luto”, pontuou.
Diante desse cenário, a especialista recomenda acompanhamento psicológico para evitar que o medo paralise a rotina das pessoas.
“Buscar ajuda profissional é essencial para reverter esses quadros e resignificar o trauma”, concluiu. ■