O último dia de programação do primeiro Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), que teve lugar em João Pessoa, no dia 30/11, no nordeste brasileiro, celebrou “interculturalidades, sabenças indígenas e africanas e territórios da palavra”. Houve ainda lançamentos de livros e standes de diversas livrarias e editoras.
Participante na mesa “Superação e Resiliência – celebração em literatura: resiliência e territorialidade”, o escritor angolano António Quino falou sobre a importância da ancestralidade e do respeito à língua, e de como cada um tem uma missão, sendo a língua um agente de comunicação que nos ajuda nesse processo.
“Cada um de nós é um ser físico que representa e corporiza a sua comunidade, o seu país, a sua religião, o seu povo, mas também representa a si. E cada um de nós é ao mesmo tempo, consciente ou inconscientemente, uma entidade espiritual. Cada um tem em si corporizados os seus ancestrais e por isso temos a obrigação de cumprir uma missão que as vezes foge a nossa compreensão”, disse.
Por sua vez, o poeta cabo-verdiano José Luís Tavares frisou a importância da língua para a identidade de cada país, e recordou a luta dos países como Angola e Cabo Verde pela soberania das suas línguas nacionais.
“Nós temos um território vasto. Portanto, não há uma única língua. É claro que o português é o elo que liga esses territórios, mas ele também pode ser um fator de divisão, como é no nosso país, porque o português não tem sabido conviver com quer as línguas que nasceram do português, que são resultados de um processo histórico, quer as línguas nacionais e dos povos que lá estavam”. E concluiu fazendo uma chamada pela diversidade: “Hoje cada um vai fabricando, vai inventando processo de interiorizar, de tornar coisa própria a língua portuguesa, através da música, da literatura e das outras formas de conhecimento, sem imposições extemporâneas e anacrónicas em termos históricos”.
A nossa reportagem conversou com autores que marcaram presença nesta edição inaugural do FliParaíba. Carlos Seixas, poeta brasileiro, residente em Recife, classificou o evento como “bem interessante”, pois houve discussões em torno de temas como “educação e o futuro dos jovens”, sublinhado que a escritora Maria Valéria Rezende “estava preocupada com a falta de leitura dos jovens”.
“A leitura é de suma importância para o desenvolvimento da pessoa e, por conseguinte, da sociedade como um todo. A realização desta primeira edição faz com que a cidade de João Pessoa se afirme como um novo polo de disseminação da cultura. A cidade, ao lado de grandes feiras literárias no Nordeste do Brasil, vai se colocar mais ainda como um grande centro de atração para grandes nomes da literatura”, afirmou Carlos Seixas, que, há poucos dias, lançou a obra infantojuvenil “O nome, você inventa”, que leva o selo da In-finita Editorial.
Recorde-se que o FliParaíba foi realizado pelo Governo da Paraíba em parceria com a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA), entidade com sede em Portugal, e que é liderada por José Manuel Diogo. O evento teve como tema central “Camões 500 anos – uma nova cidadania da língua”. Os painéis decorreram nas instalações do Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, de 28 a 30 de novembro. ■