Madragoa, a nova expressão do ressurgimento do fado na Venezuela

Segundo o fundador do Madragoa, Sérgio Correia Branco, as motivações foram várias, e na verdade tudo começou com a sua aprendizagem da guitarra portuguesa, a curiosidade de explorar e aprender este instrumento tão representativo da cultura portuguesa

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Última apresentação pública teve lugar no sábado, 18 de maio, com a Gran Noche de Fados no Restaurante Grille Macaracuay, em Caracas, um dos mais especializados restaurantes de gastronomia portuguesa na Venezuela
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No sábado, dia 20 de abril de 2024, no restaurante “El Fogón de Camacha” especializado na gastronomia da Ilha da Madeira, localizado na freguesia El Junquito, a noroeste da cidade de Caracas, o grupo musical, Grupo de Fado Madragoa, estreou-se em palco com uma tarde de Fados, com as canções mais emblemáticas de Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Zeca Afonso, entre outros.  

Este grupo de Fado formado pelas vozes Andrea Freitas e António Reis, na Guitarra Portuguesa, Sérgio Correia Branco e na Guitarra Clássica, José De Abreu, actuou também no 50º aniversário da Revolução dos Cravos organizado pelo Instituto Português de Cultura em Caracas, realizado na quinta-feira, 25 de abril deste ano de 2024.

A sua última apresentação pública teve lugar no sábado, 18 de maio, com a Gran Noche de Fados no Restaurante Grille Macaracuay, em Caracas, um dos mais especializados restaurantes de gastronomia portuguesa na Venezuela.

A motivação para criar um grupo de Fado na Venezuela

Segundo o fundador do Madragoa, Sérgio Correia Branco, as motivações foram várias, e na verdade tudo começou com a sua aprendizagem da guitarra portuguesa, a curiosidade de explorar e aprender este instrumento tão representativo da cultura portuguesa. 

“Particularmente, não conseguia entender ou aceitar que na Venezuela, um país com uma comunidade portuguesa tão grande e tão apaixonada pelo género do fado, houvesse apenas um punhado de guitarristas. Para além dos falecidos Evaristo Vilela e António Pires, no estado de Aragua, não se conhecem outros guitarristas portugueses na nossa comunidade luso-venezuelana, pelo que era muito difícil para os fadistas tocarem o fado na sua forma tradicional”, acrescentou.

Desde o momento em que comecei a tocar guitarra portuguesa, o meu objetivo foi sempre o de criar um novo grupo de fado na Venezuela e tentar preencher a lacuna deixada por outros grupos já extintos, que foram representativos no seu tempo e de onde saíram grandes expoentes do fado neste país, como a “Caravela da Saudade” – assegurou.

Correia Branco nasceu na Camacha, Ilha da Madeira, mas emigrou com os pais para a Venezuela ainda muito jovem. No campo da música tradicional portuguesa, foi diretor musical do Grupo Folclórico Alma Lusitana de Caracas, e mais tarde instrumentista da Associação Cultural do Grupo Folclórico Os Lusíadas, tocando acordeão e concertina, além de dar apoio como instrumentista a vários grupos folclóricos luso-venezuelanos em festivais e actuações particulares.

É professor de música a tempo parcial e atualmente lecciona Acordeão, Concertina e Iniciação à Guitarra Portuguesa no Centro Português de Caracas. É autor do livro “Los Instrumentos en la Música Tradicional Portuguesa”.

Por sua vez, José de Abreu é descendente de portugueses, filho de emigrantes da Madeira, e começou a tocar música por volta dos 12 anos. Fez parte de diferentes grupos musicais tocando guitarra clássica, guitarra eléctrica e baixo, entre eles: o Conjunto Pai e Filhos, com Virgilio de Gois, o Grupo Folklórico del Centro Portugués de Caracas, o Grupo Folklórico Pérola do Atlántico, o Grupo Musical Quinta Escala, o Grupo Musical Xenón, o Grupo Musical Nossa Gente e o Grupo de Gaitas “Portugaitas” do Centro Portugués de Caracas.

De Abreu, caracteriza-se por ser um grande entusiasta do Fado. Teve inclusivamente a oportunidade de tocar acompanhando excelentes guitarristas portugueses que visitaram o país por ocasião de concertos de Fado na Venezuela, como Ricardo Martins e Pedro de Castro, experiências que sem dúvida enriqueceram o seu conhecimento e amor pelo género fadista, e que agora trará para a Madragoa.

De igual modo, Andrea Freitas Melo é uma fadista amadora nascida e residente em Caracas, filha de emigrantes portugueses oriundos de Santa Maria da Feira, Distrito de Aveiro, desde muito nova que aprecia tudo o que se relaciona com a cultura portuguesa, mas com especial destaque para o Fado no seu estilo mais tradicional.

Devido ao facto de a língua portuguesa ter estado sempre enraizada em sua casa juntamente com a língua espanhola, tornou-se mais natural para ela compreender o significado e o sentimento transmitido pelos fados que ouvia.

Teve aulas de fado com a fadista Celeste Moreira e aulas de canto na Academia de Mayré Martinez. Para além disso, teve aulas de guitarra portuguesa com Sérgio Correia Branco, e foi através deste último que foi convidada a integrar o grupo Madragoa como fadista.

“O que me move e me incentiva a fazer parte deste projeto é a possibilidade de retomar e dar continuidade a um legado musical muito apreciado, especialmente o estilo tradicional que tanto amo, e que se está a perder na Venezuela” – expressou Freitas Melo.

Em seguida, António Reis, natural de Santa Maria da Feira, Distrito de Aveiro, radicado na Venezuela há quarenta anos, é um cantor com uma longa carreira no folclore português e um dos pioneiros na interpretação do Fado na Venezuela, que desde há várias décadas tem estado presente no panorama cultural luso-venezuelano, encantando com uma voz de prestígio.

Fez parte do grupo de fado “Caravela da Saudade” juntamente com o falecido guitarrista Evaristo Vilela. Também cantou com “Guitarras de Lisboa”, além de participar como convidado em noites de fado e em diversos eventos e cerimónias da comunidade portuguesa, colectividades e instituições na Venezuela.

Foi fundador do Grupo Musical “Melodías de Sempre”, e no âmbito do folclore português foi cantor do Grupo Folclórico do Centro Luso de Turumo, do Grupo Folclórico “Dos Patrias” e atualmente é a voz masculina da Associação Cultural do Grupo Folclórico “Os Lusíadas” na cidade de Caracas.

Surgimento do nome Madragoa

Este grupo procurava um nome que evocasse o Fado, as suas origens e a cidade de Lisboa; pensaram nos nomes dos bairros populares lisboetas onde o género Fado surgiu e se desenvolveu: Alfama, Mouraria, Graça, Guía, Bica, Lumiar, entre outros. 

Segundo Sérgio Correia Branco, foi ele que pensou no nome Madragoa, um dos bairros populares mais antigos de Lisboa, que deve o seu nome à existência do antigo Convento das “Mães de Goa”, que remonta ao século XVI, onde eram formadas freiras para apoiar o processo de evangelização e cuidar dos necessitados na colónia de Goa, na Índia Portuguesa.

O futuro

Os planos futuros da Madragoa passam por mostrar e divulgar o Fado na sua forma mais tradicional, para gáudio da comunidade luso-venezuelana, e também para o dar a conhecer para além dos emigrantes portugueses e seus descendentes. A sociedade venezuelana tem sido agradavelmente percepcionada ao descobrir a sonoridade única do Fado, pelo que a Madragoa aspira de alguma forma a contribuir para multiplicar esta experiência.

Um dos objectivos do Grupo Madragoa é promover e massificar o ensino da guitarra portuguesa na comunidade luso-venezuelana e assim multiplicar o número de intérpretes de forma a garantir a continuidade do Fado na Venezuela. ■

Marcos Ramos Jardim, correspondente na Venezuela

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