Brasil: morte de Sílvio Santos marca fim de um era na televisão brasileira

De vendedor ambulante a comunicador e empresário bem-sucedido, Sílvio Santos destaca-se como comunicador icónico do Brasil, depois de ter criado o programa de auditório mais popular da história televisiva do país

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Aos 14 anos, começava a sua vida empreendedora vendendo objetos pequenos nas ruas do Rio de Janeiro, quando o seu talento comunicativo chamou atenção, sendo levado a um teste numa rádio. Foto: Francisco Rosa/SBT, Gabriel Cardoso/SBT e João Batista da Silva/SBT
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O animador e empresário brasileiro Sílvio Santos, dono da estação televisiva SBT, faleceu aos 93 anos no último dia 17 de agosto, após ficar internado por 17 dias no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em decorrência de “broncopneumonia após infecção por Influenza, H1N1”.

Sílvio deixa seis filhas, as responsáveis por levar adiante o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT): Cintia e Silvia, do casamento quando jovem com Aparecida Vieira Abravanel e as filhas do segundo casamento com Íris Abravanel, Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata.

O apresentador, dono do mais tradicional programa de auditório da televisão brasileira, Programa Sílvio Santos, é considerado pelos analistas de comunicação como a figura que mais soube chegar a um modelo popular de televisão e assim se tornar uma atração capaz de mobilizar milhares de famílias nas tardes de domingo. Quem não se lembra, por exemplo, da música de abertura dos seus programas, das atrações de calouros diante de jurados convidados e das brincadeiras com o público e “Quem quer dinheiro!”, que se tornou numa marca.  

Nascido em 1930, como Senor Abravanel, Sílvio Santos era carioca da Lapa, bairro do centro do Rio de Janeiro. Foi o primeiro filho, de seis, do comerciante grego Alberto Abravanel (1897–1976) e da turca Rebeca Caro (1907 – 1989). O casal de judeus sefarditas migrou para o Brasil em 1924. 

A sua trajetória começou aos 14 anos nas ruas do Rio de Janeiro como vendedor ambulante de utensílios pequenos. Gostava de anunciar os seus produtos e a sua capacidade de comunicação foi notada, sendo convidado, em 1948, para um teste na antiga Rádio Guanabara. Foi aprovado, mas com ordenado baixo, não tinha como se sustentar e, por isso, manteve o seu trabalho como vendedor ambulante pelas ruas cariocas. Nesse mesmo ano, serviu o Exército e, com o nome Sílvio Santos, retornou ao rádio. Trabalhou na Rádio Mauá, Tupi e Continental. 

Nos anos de 1950, Sílvio Santos prossegue na vida empreendedora e, em 1954, vai para São Paulo, onde passa a trabalhar na Rádio Nacional como locutor comercial, após ser aprovado num teste no Programa Manoel de Nóbrega. No ano seguinte, Sílvio começa a fazer participações na TV Paulista (Canal 5) como locutor e apresentações em teleteatros ao vivo. Em 1957, apresenta o seu primeiro programa, com variadas atrações, como Quando Maestros Se Encontram, O Grande Espetáculo, Hit Parade, Brincadeiras Figalda e Um Nome de Mulher.

Em 1958, convence Manoel de Nóbrega a implementar, com novas ações, o Baú da Felicidade, um sistema de compras por prestações. Após obter sucesso, em 1959, funda a sua primeira empresa, que leva o seu nome. A partir de então, a trajetória empresarial do comunicador avança com inúmeras realizações televisivas e, em 1960, surgiu o primeiro programa autoral de Sílvio Santos, Vamos Brincar de Forca. Com o sucesso, vieram Ganhando e Apostando, Bolada Fik Forte e Pra Ganhar é Só Rodar (o do pião giratório com a trilha sonora de suspense). Com esta dinâmica empreendedora e visão para as promoções, Sílvio funda, em 1962, a Publicidade Silvio Santos.

No dia 2 de junho de 1963, Sílvio aluga um espaço dominical na TV Paulista para estrear o Programa Silvio Santos, e desde este início, as mesmas características que marcaram o comunicador: o sorriso alegre e expansivo, as diversões, os calouros e gincanas. No ano seguinte, Silvio decide buscar novos espaços para os seus programas e assim alugou um horário, aos sábados à tarde, na TV Tupi, depois, semanal, no horário noturno. É desta época, o Festival da Casa Própria. Foi a primeira vez na TV brasileira que se entregava, por meio de sorteios via prestações, uma casa e um automóvel.

Em 1964, a TV Paulista passa o controlo a Roberto Marinho e, no ano seguinte, inaugura no Rio de Janeiro, a TV Globo. Em 1969, Sílvio Santos aumenta o tempo do seu programa para nove horas. Obtendo sucesso e a cada ano mais presente nos lares brasileiros, em 1972, cria o Grupo Silvio Santos, uma holding com mais de 30 empresas. No ano seguinte, inaugura o Centro de Produção Vila Guilherme e início das atividades dos Estúdios Silvio Santos.  

Os anos de 1970 foram marcados pelo sucesso de Sílvio Santos como empresário e comunicador. Em 1975, Silvio tem o seu primeiro canal de televisão, que foi ao ar no dia 14 de maio de 1976, a TV Studios Silvio Santos. No mês seguinte, sai da TV Globo e estreia, em cores, na Tupi, com o Show de Calouros, Domingo no Parque, Qual é a Música e Namoro na TV. 

O “maior apresentador da televisão nacional”, citação unânime entre os especialistas, Sílvio Santos tornou-se num dos mais bem-sucedidos empresários do país. Sorridente e de um carisma reconhecidamente alegre, fundou SBT em 1981, após ganhar a concessão do extinto canal 4 do Ministério das Comunicações. Foi a época dos populares programas Show de Prêmios, Porta da Esperança, Roletrando e Tudo por Dinheiro. A partir daí, a vida do empresário-comunicador toma novos rumos. Em 1988, entra na política pretendendo ser candidato à Prefeitura de São Paulo, mas não se concretizou, e depois como candidato a presidente, mas teve sua candidatura suspensa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Nos anos 2000, enfrenta o sequestro da filha Patrícia e tem problemas com o Banco Pan-Americano, onde era acionista majoritário. Em 2010, Sílvio sofre com um rombo de quase R$ 4 bilhões. Mesmo assim, ele conseguiu vender o negócio para o BTG, por cerca de R$ 450 milhões.

Não se deixando abater, segue na sua trajetória como empresário-comunicador, investindo e revelando novos animadores, como Gugu Liberato, Mara Maravilha, Celso Portiolli, Eliana, entre outros. Nos anos 2020, Patrícia Abravanel divide com o pai o programa dominical.

Sílvio Santos deixa, além do legado enquanto comunicador e exemplo para inúmeras pessoas como alguém dedicado ao trabalho, um património bilionário distribuído em vários empreendimentos, totalizando, conforme lista da Forbes, em R$ 1,6 bilhão. E de acordo com informações distribuídas na imprensa, as filhas receberão, igualmente, na partilha de bens, cerca de R$ 100 milhões, exceto as propriedades. ■

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