A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) continua a desempenhar um papel vital na economia brasileira, conforme revela relatório divulgado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX), do Brasil. Segundo a análise do comércio entre o Brasil e os países membros da CPLP, há uma concentração significativa das atividades comerciais em Portugal, Angola e Moçambique, que, juntos, representam mais de 98% do fluxo comercial com o Brasil entre 2021 e 2023.
Em 2023, o valor das exportações brasileiras para a CPLP atingiu 4.242 milhões de dólares. Os principais produtos exportados incluem óleos brutos de petróleo, soja e aviões, totalizando 63% do valor exportado. O setor dos produtos alimentares e da agricultura também mostrou força, representando 71,2% do valor total das exportações. No entanto, o estudo indica uma reversão na tendência de crescimento das exportações brasileiras para a CPLP, que começou em 2020, registando uma queda em 2023.
As importações brasileiras provenientes da CPLP somaram 1.774 milhões de dólares em 2023. Os produtos com maior participação foram óleos brutos de petróleo, azeite de oliva virgem e partes e peças de veículos aéreos, concentrando 61% do valor importado. O comércio de bens não industriais e de baixa intensidade tecnológica dominou as importações, com 40% e 34%, respetivamente.
Higor Ferro Esteves, diretor-geral da FUNCEX Europa, com sede em Portugal, comentou sobre a importância das relações comerciais entre Brasil e Portugal enquanto “países com uma relação comercial amigável e estável”.
Aliás, nos últimos anos, disse, “o Brasil tem aumentado as suas exportações para Portugal, posicionando-se como o sétimo maior fornecedor para o mercado português. Apesar da concentração no sector do petróleo, há um crescimento significativo nos produtos agrícolas, metais comuns e madeira”, afirmou Esteves.
“A FUNCEX, que ocupa a vice-presidência da Confederação Empresarial da CPLP, tem sido fundamental na facilitação dessas relações económicas. A FUNCEX Europa tem desenvolvido uma agenda ativa desde a sua instalação em Portugal em 2022. Temos aproximado empresas brasileiras do mercado europeu e dos países da CPLP, realizando acordos de cooperação e participando de discussões comerciais importantes, como o acordo Mercosul-União Europeia”, explicou este responsável.
Para este diretor geral, a importância da aproximação entre os empresários dos dois lados do Atlântico revela que “essas conexões são essenciais para fomentar o crescimento e a inovação nos mercados envolvidos”.
Além disso, a FUNCEX Europa tem estabelecido parcerias estratégicas com entidades como a Fundación Euro-América, a Casa da América Latina, Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, além de colaborar com câmaras municipais em Portugal para fomentar o investimento brasileiro.
Face à situação, Esteves destacou que “estas ações têm sido fundamentais para o incremento e desenvolvimento das relações económicas, com destaque para a interação de proximidade com a Câmara Municipal de Cascais, que tem atraído um fluxo significativo de investidores brasileiros”.
O empresário brasileiro destaca o papel de Portugal como um ponto de entrada para o mercado europeu, assinalando que o país “serve como uma base estratégica para as empresas brasileiras que desejam expandir para a África lusófona”, isto porque Esteves avalia existir um grande potencial na relação Brasil-África, com Portugal servindo como uma base de referência e apoio.
“Portugal possui um grande know-how nas relações comerciais com a África, o que pode ser de grande valia para empresários brasileiros que desejam criar relações com os PALOP”, afirmou, lembrando que “o conhecimento e a experiência de Portugal em negociar com mercados africanos podem facilitar a entrada de empresas brasileiras nesses países, criando novas oportunidades de negócios”.
Por fim, Higor Ferro Esteves ressaltou que a FUNCEX Europa mantém também relações e ações intensas no Sudeste Asiático via CPLP, “onde contamos com Timor-Leste”, que é, de acordo com este executivo, “um país com uma geografia estratégica para o fortalecimento económico da CPLP e apresenta, na sua própria economia, muitas oportunidades”. ■