O Papa Francisco deixou Portugal no último dia 6 de agosto a bordo de um voo operado pela TAP após liderar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que decorreu em Lisboa entre os dias 1 e 6 de agosto. Na bagagem, o santo Padre levou consigo imagens de uma imensa multidão que acompanhou vigílias, missas, atividades e encontros pela capital portuguesa, nesta que é considerada a maior iniciativa católica a nível mundial voltada para os jovens.
Francisco cumpriu um extenso programa em solo português e viu, numa única cerimónia, a junção de cerca de 1.5 milhões de pessoas no Parque Tejo, durante a Vigília. O santa Padre visitou locais na capital portuguesa, foi recebido pelas autoridades locais e internacionais, mas também esteve em Fátima. Um imenso público estrangeiro acompanhou os passos de Francisco em Portugal. Todos os países do mundo estiveram representados na Jornada Mundial da Juventude, menos as ilhas Maldivas, um pequeno país muito conhecido por ser um destino de férias de prestígio. Apesar de haver países onde os católicos são minoritários, até mesmo esses enviaram peregrinos à JMJ.
O Brasil, que conta com uma grande parte da população católica, esteve presente em quantidade numerosa em Portugal. Exemplo dessa movimentação é o brasileiro Thiago Costa, natural de Jundiaí, em São Paulo. É empresário e atua como cientista de dados, tem 39 anos de idade e decidiu ir com alguns amigos para Portugal participar na JMJ, depois de já ter passado por outros países em busca de momentos de fé e união com outros povos. Estar na JMJ, segundo ele, impacta as pessoas. Depois de muitos desafios, foi reconfortante ouvir as mensagens do Papa.
“Quando tinha 24 anos participei pela primeira vez no evento, que ocorreu em Sidney, na Austrália. Nessa minha primeira participação, fui sozinho. Mas fiquei muito impactado. Ao retornar para casa, convidei os meus amigos e os jovens da minha paróquia. E nunca mais parei. Os meus amigos também apaixonaram-se pelo evento e participam comigo em todas as edições desde então. Esta é a minha sexta participação na JMJ. Estive nas edições de Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016), Cidade do Panamá (2019) e, agora, Lisboa (2023). Portanto, a JMJ tornou-se numa tradição que eu e os meus amigos fazemos questão de participar, ano após ano. É muito interessante pensar em como mudei, desde a minha primeira participação até agora. Foram muitas mudanças, com relação ao trabalho, ao amadurecimento, a minha relação com a fé e com a Igreja. Hoje em dia, sinto-me mais maduro e capaz de absorver melhor tudo o que acontece durante estes dias”, frisou Thiago.
Durante a JMJ em Portugal, este peregrino brasileiro ficou hospedado, juntamento com o seu grupo, na casa de uma família em Sobreda, no concelho de Almada. Um momento e uma interação que por si só, segundo o nosso entrevistado, valeram a viagem a Lisboa.
“No Brasil, há um mito de que os portugueses são um povo mais frio e formal, que possuem um perfil diferente do povo brasileiro, que demonstra afeto com mais facilidade. Eu vi este mito sendo destruído dia após dia. O carinho que essa família demonstrou para comigo e com os amigos, a preocupação e os cuidados com a gente, os mimos e as risadas, isso vai ser sem dúvidas o que vou levar de mais valioso sobre este evento. O meu grupo, em agradecimento, preparou para a família um pequeno almoço ao estilo brasileiro, com comidas típicas. No nosso último dia, a família que nos recebeu retribuiu a gentileza e preparou bacalhau para jantarmos”, contou Thiago.
Sobre a conexão da capital portuguesa com os visitantes, Thiago Costa sublinha que “algo que sempre me marca nos eventos é a reação do povo local ao evento. Os peregrinos são numerosos e, do dia para a noite, dominam todos os meios de transporte e as ruas da cidade. É sempre interessante ver os moradores locais que não participam no evento e que precisam dividir a cidade para continuar com as suas atividades cotidianas. Tanto no Rio de Janeiro como em Lisboa, eu percebi uma reação parecida: no início, vimos as pessoas tímidas, impressionadas com os peregrinos, mas com um certo receio de se envolver ou de participar. Aos poucos, essas pessoas vão se enturmando, tirando selfies, buzinando quando nos encontravam nas ruas. Ao final, percebemos o povo querendo de alguma forma fazer parte do evento”.
“Tivemos dias de muito calor durante a JMJ em Lisboa. E uma imagem que me tocou muito foi a de moradores doando água aos peregrinos que passavam sedentos pelas ruas”, recordou Thiago.
Enquanto o Papa Francisco estava em Portugal, a comunicação social do país denunciou momentos de desorganização na JMJ, algo que não foi tão latente para os peregrinos, apesar de que o grande fluxo de pessoas nos transportes públicos tornou o regresso à casa mais difícil com autocarros, metro e comboios completamente lotados no final das atividades.
“Avaliar a organização do evento pelos olhos do peregrino é algo que precisa ser feito com cuidados. As pessoas que não participam no evento não têm uma visão correta daquilo que nós, peregrinos, viemos buscar. Estamos falando de um evento para milhões de pessoas, que tomam a cidade! Apesar de não ser português, eu pude ver algumas notícias sobre a JMJ nos media português. Havia um aspeto negativo, realçando a falta de conforto dos peregrinos, que descansavam em sacos de dormir num ginásio e tomavam banho em água gelada. Havia também uma discussão sobre os autocarros e metros lotados. Estes pontos parecem chocantes para quem não participa no evento, mas, para os peregrinos, isso não é um problema”, comentou este cidadão brasileiro, que destacou ainda que, “considerando o tamanho e a realidade da cidade, eu consigo ver que o evento teve uma organização muito boa, pois não houve questões graves de saúde ou segurança e os meios de transporte, apesar de lotados, funcionaram relativamente bem, pois os voluntários estavam bem treinados e conseguiram ajudar os peregrinos”.
“Então, a minha avaliação é que, apesar de não ter sido perfeita, a organização do evento foi muito boa e foi visível o esforço que todos fizeram para receber bem os peregrinos”, afiançou.
Thiago promete levar no peito momentos de extrema emoção no contacto com outros jovens e com a cultura portuguesa. O caminho até Lisboa não foi fácil. Foi, antes, cheio de “desafios”, ultrapassados com a força de vontade e da fé dos jovens peregrinos que rejeitam “ter medo”.
“Eu e o meu grupo vivemos dias muito intensos antes da JMJ. A nossa preparação para o evento iniciou-se anos antes, com a compra dos bilhetes aéreos. Desde a compra dos bilhetes até a data da jornada, houve grandes eventos nas nossas vidas. A mãe de uma de nossas amigas faleceu meses antes da jornada. Outro desenvolveu um problema sério na coluna. E outra amiga ainda descobriu estar grávida. O Papa, na missa do domingo, reforçou várias vezes uma mensagem: NÃO TENHAM MEDO! E esta mensagem foi para a mim a mais impactante. Tanto eu como os meus amigos tínhamos motivos para desistir e não participar na JMJ, mas encaramos os nossos medos e viemos. Enquanto planeávamos a nossa viagem, discutimos os nossos sonhos e desejos pessoais. Mas a vida mudou e, mesmo com os desafios, encaramos. E estamos voltando para casa com o espírito renovado”, finalizou Thiago. ■