O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, encerrou a viagem oficial a Portugal no último dia 25 de abril ao participar na Sessão Solene de Boas-Vindas na Assembleia da República, o parlamento português, em Lisboa. Com uma mensagem de agradecimento pela acolhida e de reverência à data que marca o fim da ditadura em Portugal, Lula falou aos parlamentares portugueses e celebrou “a retomada da diplomacia brasileira e a união histórica entre os dois países”, além de condenar “a violação territorial da Ucrânia pela Rússia”, de ressaltar a “importância da defesa da democracia e o combate às fake news”. Lula enfatizou ainda que existe a necessidade de “um olhar atento” para a transição energética e as mudanças climáticas. Cobrou reformas no Conselho de Segurança da ONU e reiterou o empenho da sua gestão “na redução das desigualdades em todas as suas dimensões”.
“Tenho viajado o mundo para reencontrar os nossos parceiros. E tenho reafirmado que o Brasil que todos sempre conhecemos voltou à cena internacional. Um país que não aceita que o seu povo passe fome e que tem consciência da sua responsabilidade na segurança alimentar mundial, pela diversidade e dimensão dos seus recursos naturais”, disse o presidente brasileiro.
Lula discursou sob a presença do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo; do primeiro-ministro português, António Costa; e do presidente da Assembleia da República Portuguesa, Augusto Santos Silva.
“Consigo, Brasília volta a abrir-se ao mundo. Em si reconhecemos o líder cujas políticas sociais contribuíram decisivamente para a redução da pobreza e das desigualdades no Brasil. Em si vemos o estadista que se apresentou e venceu eleições livres e que, depois, quando alguns tentaram invadir e derrubar as instituições democráticas, soube defendê-las sem hesitação”, disse Santos Silva.
Temas abordados durante discurso
Lula defendeu o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. Na Assembleia da República de Portugal, o líder brasileiro criticou a invasão à Ucrânia e reforçou que é preciso uma articulação internacional para buscar a paz.
“Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da História. Nenhuma solução de qualquer conflito, nacional ou internacional, será duradoura se não for baseada no diálogo e na negociação política. O Brasil compreende a apreensão causada pelo retorno da guerra à Europa. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais”, disse Lula.
“Ao mesmo tempo, é preciso admitir que a guerra não poderá seguir indefinidamente. A cada dia que os combates prosseguem, aumenta o sofrimento humano, a perda de vidas, a destruição de lares. As crises alimentar e energética são problemas de todo o mundo. Todos fomos afetados de alguma forma pelas consequências da guerra. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho do diálogo e da diplomacia”, prosseguiu.
Em relação ao Conselho da ONU, Lula destacou a importância do multilateralismo e cobrou a reformulação do Conselho de Segurança da ONU, “de modo a adequá-lo às mudanças dos tempos atuais”.
“Assim como os portugueses, nós brasileiros assumimos um compromisso absoluto com o multilateralismo. Esse compromisso força-nos a reconhecer que as ferramentas da governança global se têm mostrado inadequadas para fazer frente aos desafios atuais. O Conselho de Segurança das Nações Unidas encontra-se praticamente paralisado. Isso ocorre porque a sua composição, determinada ao fim da Segunda Guerra Mundial, 78 anos atrás, não representa a correlação de forças do mundo contemporâneo”, declarou Lula, que comentou que “defendemos uma reforma que resulte na ampliação do Conselho, de maneira a que todas as regiões estejam representadas de forma permanente, de modo a torná-lo mais representativo em seu processo deliberativo e mais eficaz na implementação de suas decisões”, afirmou Lula.
Manifestações
Em Lisboa, quando os portugueses comemoravam o feriado de 25 de abril, data em que, em 1974, um golpe militar depôs o regime ditatorial do Estado Novo e iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático, cerca de 15 manifestações foram registadas pelas autoridades portuguesas nas ruas da capital do país, o maior número desde o início do estado democrático. Houve manifestações a favor da democracia, em prol do governo de Lula e também contra o presidente brasileiro. Mesmo dentro da Assembleia da República, Lula foi duramente criticado pelos parlamentares do partido português Chega. O grupo chegou a ser advertido pelo presidente desse parlamento por conta dos insultos dirigidos a Lula.
Após a sua fala no parlamento luso, Lula seguiu para o Aeroporto Militar Figo Maduro, de onde embarcou para a Madrid, para a última escala dessa passagem pelo continente europeu. Na Espanha, o presidente participou, no dia 25, num evento com empresários dos dois países e fará uma visita ao presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, além de almoçar com o rei Felipe VI no Palácio Real. ■