Em entrevista à nossa reportagem, Carlos Gonçalves, deputado à Assembleia da República Portuguesa, eleito pelo círculo europeu, contestou o governo “liderado” pelo PS, BE e PCP por não ter “apostado nas reformas necessárias”, sobretudo em relação às comunidades portuguesas, destacou os problemas enfrentados nos serviços consulares, que necessitam de “medidas rígidas para travar a crise existente na área de recursos humanos”, ressaltou que é preciso que, após as eleições de janeiro, o país “volte a crescer” e mantenha o seu estatuto de “estabilidade”, que deve haver “mais compromisso por parte dos partidos políticos com o país”, com o intuito e “lutar pelo interesse dos portugueses”. Este deputado avaliou ainda a comunidade portuguesa na Suíça e sublinhou as políticas que devem ser implementas neste país helvético para valorizar as comunidades e os consulados.
Como avalia a comunidade portuguesa na Suíça?
É uma comunidade cuja integração está a evoluir de forma muito positiva. Convém lembrar que a emigração para a Suíça começou a ser sazonal, na qual as pessoas não faziam perspetiva da sua vida nesse país e, portanto, faziam o seu futuro pensado em Portugal. No momento em que deixou de ser sazonal, em grande maioria, os portugueses começaram a pensar o futuro das suas vidas na Suíça e é por isso que existe esta capacidade da comunidade há décadas a nível de integração. Hoje, está mais representada a vários níveis da sociedade, nas categorias profissionais, começa a aceder a cargos políticos e é uma comunidade que hoje tem um papel muito importante na economia, na vida social, da confederação helvética. Temos informações muito positivas desta integração. Tem uma relação com Portugal ainda muito forte. É neste momento a comunidade que mais remessas financeiras envia para Portugal. Está associada a um investimento muito grande no nosso país, começa a ter uma rede empresarial muito interessante e que interage com as pequenas e médias empresas portuguesas, fator muito relevante. E é uma comunidade que tem sabido, independentemente dos problemas e da falta de apoios, digamos, mobilizar um tecido associativo que tem sido o grande suporte daquilo que é a promoção da nossa língua e da nossa cultura e tem desempenhado um papel importante. O movimento associativo é a base de enquadramento de uma comunidade quando ela está no estrangeiro, tem um papel muito importante no período de instalação, e, na minha opinião, é uma força das comunidades. A comunidade na Suíça tem uma evolução positiva e está cada vez mais ligada ao país de acolhimento.
Que informações tem sobre os serviços consulares na Suíça?
A informação que tenho é preocupante. E, infelizmente, não é só na Suíça. O consulado de Genebra, que é o maior consulado, está com agendamentos para cartão de cidadão que vão para março ou abril de 2022; temos uma situação muito complicada, que eu já denunciei, que é no escritório de Sion, em Lugano, e em pouco tempo teremos problemas, pois há somente dois funcionários, e um deles vai para a reforma e o outro está com problemas de saúde, é uma situação complicada. E a secção consular junto da embaixada de Portugal em Berna também está a sentir enormes dificuldades no atendimento à nossa comunidade. Na Suíça, o posto que neste momento tem menos problemas acaba por ser Zurique, mas todos os outros estão numa situação muito difícil, na qual as pessoas esperam cerca de cinco meses por um agendamento e isso cria imensos problemas na relação administrativa com Portugal. Temos comunidade com problemas ainda mais profundos… Esta governação do Partido Socialista com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português ficará para sempre associada à degradação e à situação e quase colapso da nossa rede consular. Fico triste, pois, alguns agentes da nossa comunidade, face à esta situação, em vez de defenderem as comunidades portuguesas, têm mantido o silêncio, o que me parece preocupante. Temos que procurar ajudar aqueles que tanto necessitam ter um cartão de cidadão, um passaporte, e a rede consular não pode viver uma situação destas por muito mais tempo. Isto é perfeitamente indigno para um país como Portugal.
Que políticas devem ser implementas na Suíça, e nos demais países do eixo europeu, para se valorizar as comunidades e os serviços consulares?
A questão dos serviços consulares é uma prioridade das prioridades. Seja qual for o governo, assim que assumir funções, vai estar confrontado com uma situação muito complicada e não vai ser fácil para aqueles que tiverem os destinos políticos no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Políticas que devem ser implementes, e no caso do meu partido, que é o PSD, é o regresso da nossa proposta da uniformização da metodologia de votos para que possamos votar por correspondências e também presencialmente para as três eleições importantes: para o Parlamento Europeu, Legislativas e Presidenciais. Este é um tema que a mim me diz muito. Temos que ter em conta que o movimento associativo vive um momento de grande dificuldade. Na diáspora, em virtude da pandemia e com o fim das atividades e limitação em termos de receita, com muitas associações que deixaram de funcionar, não foi paga a cotização. Muitos grupos de folclore, de teatro e algumas associações de âmbito desportivo, as atividades não regressaram e, ao fim de ano e meio, estão sem qualquer tipo de atividade… Na Suíça, temos um problema muito grave. É um país onde a realidade é complicada. Os apoios para a comunidade portuguesa na Suíça são muito reduzidos. É verdade que a verba em tempos de pandemia que o governo disponibilizou foi inferior a verba antes da pandemia, o que demonstra uma total insensibilidade à essa questão. Mas penso que é possível atender às necessidades do movimento associativo, procurar ajudar, ter um programa de apoio menos burocrático e mais adaptado à realidade das redes associativas, pois, por vezes, fico surpreendido com a lista das grandes associações beneficiadas, que são sempre as mesmas e são aquelas que têm um staff acostumado a fazer esse tipo de pedidos e não é propriamente a comunidade tradicional. E tem que haver um apoio institucional dos nossos consulados neste momento associativo. Tem a questão da língua, que é importante, e que deve recuperar no Instituto Camões a importância que tem vindo a perder. Fala-se muito pouco no ensino da língua portuguesa no estrangeiro. É um tema que passou para segundo plano. E esta é uma grande preocupação, pois não podemos estar a falar das comunidades portuguesas e da sua afirmação sem falar na questão cultural e na questão da língua. É um tema claramente importante. E que deverá ter, da parte do próximo governo, uma atenção especial e depois aquilo que parece essencial, a questão empresarial, que é fundamental. Normalmente, os empresários da Diáspora portuguesa não querem subsídios, mas sim que haja menos burocracia, que o licenciamento de uma obra seja rápido, que seja ao ritmo da realidade dos países onde vivem e, por vezes, há tantos obstáculos administrativos que quem está no estrangeiro e quer investir em Portugal passa a “perder a paciência”. Além de outras matérias, como as questões fiscais, as questões sociais.
Que mensagem deixa para a comunidade portuguesa na Suíça?
As últimas notícias relativamente à pandemia são preocupantes. Pensávamos que tínhamos passado a fase mais negativa e, de repente, surgem números de contágios grandes e uma nova variante que a todos nos deixa preocupados, e, por isso, regressaram às restrições à viagem e à mobilidade. Isto acontece a poucas semanas da quadra festiva do Natal e vai complicar a vida dos portugueses no estrangeiro e na Suíça. Esta época é sempre um momento muito importante e que tem um grande simbolismo para os portugueses residentes no estrangeiro. Convém lembrar que quem emigrou superou as suas dificuldades e foram exemplos notáveis muitas vezes apenas com o apoio da família e também com o sacrifício da família, que ficou em Portugal, tal como aconteceu a mim e aos meus pais. Não creio que até a data da quadra festiva estas restrições possam ser retiradas, o que vai complicar a vidas das pessoas, dos restaurantes, da mobilidade, das pequenas empresas, das associações, dos pequenos eventos… Vamos passar mais um momento relativamente difícil e teremos de ser resilientes… A resiliência é uma das grandes forças da nossa emigração e lamento imenso que não possamos ter um Natal como gostaríamos e esse é o lamento que aqui faço. Que todos tenham um bom Natal e que, uma vez mais, possamos passar esta data com muita responsabilidade e conseguimos ultrapassar mais esta vaga no âmbito da pandemia de Covid-19.
Ígor Lopes ∎